Diálogos contemporâneos II

Por Douglas de Souza Fernandes:

B: Aí também não, né? Comparar ele com o Hitler já é brincadeira…

A: Mas veja, ambos eram militares da reserva, de baixa patente e revoltados com a situação do País…
B: Calma lá! Hitler era cabo e ele é CAPITÃO! E revoltado com a situação do país eu também estou, é natural.
A: Ok. Vejamos a situação dos dois países. Ambos, a Alemanha derrotada na 1ª Guerra – e o Brasil de hoje, estavam numa profunda crise econômica, com as instituições desacreditadas e o povo desiludido. E foi nesse cenário que Hitler e ele surgiram como “salvadores da Pátria e do orgulho nacional”.
B: É, mas isso não quer dizer nada, todos os países passam por crises e nem por isso…
A: Mas continuemos. Ambos apontaram os culpados por esse caos. Para Hitler eram os judeus, comunistas, ciganos, negros e homossexuais os responsáveis por sujar o “sangue puro” dos arianos e levar o país à decadência moral e econômica. Hoje, no Brasil, os culpados continuam sendo os comunistas, intelectuais, homossexuais e negros; saem os judeus e ciganos, e entram o PT, os sem teto, os sem terra, a imprensa e as feministas. Para um e outro, só eliminando esse pessoal do mal que os cidadãos de bem poderiam viver em paz e decentemente…
B: Mas ele nunca falou em eliminar ninguém! Eu, por exemplo, acho um absurdo dois homens se beijando na rua, na frente de crianças! Mas mesmo assim, nunca pensaria em matá-los. Só acho que cada um deveria ficar no seu devido lugar. É uma questão de decência, de respeito à família.
C: Mas Hitler também nunca disse – antes de assumir o poder – que queria exterminar alguém. No início, ele dizia exatamente o que você defende: eles tinham só que ser separados do pessoal do bem. Foi para isso que surgiram os guetos para os judeus. Os campos de extermínio só seriam construídos depois. E aqui no Brasil, em discurso, ele disse há pouco, claramente e bem articulado, que no seu governo “esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria! vão para a cadeia ou exílio!” Não é similar?
B: Isso é fake news.
A: Mas tá lá, gravado, registrado…
B: Então tiraram do contexto…
A: Vamos lá! Por querer acabar com qualquer pensamento diferente do seu, Hitler centrou fogo contra os escritores, intelectuais dissonantes e mandou queimar livros “impróprios para pessoas decentes”. Aqui a situação é diferente, quase ninguém lê. Então o foco são os livros didáticos e os artistas.
B: Sobre os livros escolares eu acho certo. É uma pouca vergonha ficar falando de sexo na escola! Quem tem direito de falar de sexo com crianças são os pais. Artista você disse ? Pra mim artista é quem diverte e distrai a gente com decência. Quem tem ideologia que vá para Cuba ou Venezuela e não volte mais…
A: Então você concorda que as duas histórias são parecidas?
B: Claro que não, são dois mundos e tempos completamente diferentes.
A: Mas tem mais “coincidências”: Hitler sabia que seu “reich” só se perpetuaria se os futuros adultos acreditassem nele. Por isso dava atenção especial às crianças e jovens. É só assistir a qualquer dos muitos filmes sobre o nazismo (no Netflix tem vários) para ver aquelas formações de milhares de crianças, todas uniformizadas, loirinhas, levantando os braços num mesmo movimento para saudarem o “grande líder”. E por aqui já é comum crianças na rua imitando o gesto de empunhar o revólver, o símbolo do “mito”. Para regozijo e orgulho dos pais…
B: Mas vocês distorcem tudo, mesmo! Meu Deus! Ele nunca falou em transformar crianças em militares. Disse, isso sim, que irá encher o país de COLÉGIOS MILITARES, está preocupado com a educação! E as armas, porque só deixá-las nas mãos dos bandidos? Os cidadãos de bens não podem se proteger?
A: Bom, acho que quem deveria nos proteger é a polícia, criada para isso e que é paga para isso. E se ele realmente quer deixar as pessoas mais seguras deveria expurgar todos os policiais corruptos de todas as corporações, traçar planos de ação, preparar e armar melhor os policiais e não a população civil. Quem fala que a população só está segura armada é porque não confia no trabalho da polícia, não é?
B: Não queira confundir as coisas. Estamos falando da Alemanha e do Brasil e, que saber? Acho que não tem nada a ver as duas coisas. Hitler era alemão, ele é brasileiro…
A: Austríaco…
B: ?
A: Hitler era austríaco.
B: Ah, sempre achei que era alemão…mas não importa, o que importa é que estamos às portas da vitória e estou com a consciência tranquila sobre o meu voto…
A: Mais uma coincidência!
B: …?
A: Mais uma coincidência com a Alemanha de Hitler. Também lá, se você perguntasse antes da derrocada do “reich”, quase todos os alemães diriam o mesmo, pois ainda seguiam o “mito”, digo, o “grande líder”. Mas voltando ao Netflix, veja lá um documentário feito logo depois da derrota alemã, em 1945. No pós guerra, os americanos e aliados levavam as famílias alemãs para conhecerem o que acontecera dentro dos campos de extermínio que, obviamente, quando funcionavam eram fechados às pessoas de bem. Perceba que muitos vão até sorridentes, achando que seria uma excursão qualquer. Depois compare com a fisionomia que eles fazem quando descobrem as atrocidades que aconteciam com velhos, crianças e adultos “impuros”, ali bem pertinho do aconchego de suas casas: um misto de surpresa, terror e desespero. É como se perguntassem: “Meu Deus, como pudemos ser cúmplices, como pudemos deixar que isso acontecesse?” E eu pergunto pra você: isso também é fake new?
B: Ah, qualé? Não é, mas deve ser uma montagem feita por algum judeu. Todos sabem como eles mandam no cinema. Woody Allemn, o … o… É a versão deles…