Quando a Sanepar começará
a pagar os Fukumoto?

Por Douglas de Souza Fernandes:

Quando o senhor Fukumoto não puder mais cuidar de uma das mais importantes nascentes do Rio Pirapó, quem irá cuidá-la? Essa foi a última frase da jornalista Célia Polesi no final do vídeo realizado no ano passado pela equipe da Coordenadoria de Comunicação Social da Câmara Municipal de Maringá.

O minidocumentário, produzido pelos cinegrafistas e editores Adriano e Saylon, fazia parte da entrega do título de Cidadão Benemérito de Maringá a um senhor de 87 anos, Luís Hiroshi Fukumoto, que cuidava, lá em Apucarana, há mais de 70 anos e sem qualquer ajuda oficial, de uma das principais nascentes do Rio Pirapó, do qual quase todos os maringaenses tomam a água.
O vídeo foi apresentado durante a Semana do Meio Ambiente da CMM realizada em junho do ano passado. já há quatro dias, completou-se um mês do falecimento do “Guardião do Rio Pirapó”. E a última pergunta feita no vídeo continua sem uma resposta oficial.
Pelo que me consta, até o momento nenhum órgão oficial se pronunciou a respeito. Quando dei os pêsames a um dos filhos de Fukumoto, repeti a pergunta feita há um ano pela jornalista Célia Polesi. E ele me respondeu simplesmente que tentarão, ele e os irmãos, se revezarem para fazer o trabalho que era feito por seu pai, que por sua vez havia assumido a responsabilidade do pai dele. Isso porque já há muito tempo pediram à Sanepar que assumisse o local, os indenizasse pelo terreno e ali criasse um parque de preservação ambiental. Ficaram sabendo, no entento, que não seria feito nada e que não poderiam nem mesmo vender o terreno, hoje localizado no centro de Apucarana.
Quem, afinal, é responsável por essa importante mina que abastece o Pirapó? Acho que a resposta se tornaria óbvia se comparássemos água com suco de laranja. Ou melhor, se comparássemos uma “fábrica” de cada. É óbvio que a Sanepar não produz água; ela não faz mais que tratá-la para torná-la potável. Uma indústria de suco de laranja também não fabrica a laranja, apenas acondiciona o seu suco e junta os produtos químicos que a manterão bebível por um certo tempo.
Na indústria de derivados cítricos, quem planta e colhe a laranja tem – ou deveria ter – um pagamento condizente com o seu trabalho. E o que o senhor Fukumoto, o seu pai, e agora os seus filhos vêm fazendo há cerca de 80 anos – ou seja, muito tempo antes de a Sanepar abocanhar a maringaense Codemar- que é diferente do que os plantadores de laranja fazem? Estes também não procuram entregar a melhor matéria-prima possível para que a indústria possa vender a melhor água, digo, o melhor suco de laranja?
Não está na hora de a Sanepar – que cobra caro pela água que os Fukumoto ajudam a cuidar – assumir o que é de fato a sua responsabilidade? E, além da ex-Codemar, onde estão as chamadas “forças vivas” da política maringaense, que começam pelos vereadores, passam pelo prefeito, pelos deputados e até membros do alto escalão do governo federal? O que todas essas “forças políticas” pretendem fazer para garantir para a posteridade o que um homem, sozinho, sem poder político algum, conseguiu fazer ininterruptamente por longos 70 anos?
Não seria o caso de a Sanepar ou o governo do Estado encampar o projeto, simplesmente usando parte do arrecadado na cidade – já que a Sanepar não cansa de afirmar que as cidades superavitárias (que dão lucros à empresa, como é o caso de Maringá) ajudam a subsidiar obras em cidades com arrecadamento deficitáro? Por que não se criar um parque ecológico no local, com o qual, além da proteção ao manancial, poderia ser fomentada a conscientização de milhares de alunos e outros visitantes?
Então, voltemos à pergunta feita inicialmente há um ano e um mês, com um pequena diferença: De quem, afinal, é a responsabilidade de cuidar da água que o maringaense bebe?
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(*) Douglas de Souza Fernandes, ex-coordenador de Comunicação Social da Câmara Municipal de Maringá; e jornalista há 36 anos.

(Foto: Marquinhos Oliveira/CMM)
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