Bolsonaro mostra que os militares sempre mentiram
sobre os crimes da ditadura

De Míriam Leitão, em O Globo:

Durante mais de três décadas os militares disseram ao país que não tinham documentos, não sabiam dizer onde estavam os desaparecidos políticos, não souberam como morreram os que foram assassinados nos quartéis durante a ditadura militar. Hoje, o presidente Jair Bolsonaro disse o oposto.

Primeiro, decidiu brincar com mais um drama humano e dizer ao presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, que sabia como o pai do advogado havia morrido. Depois, criou a sua versão que culpa a esquerda.
O que o presidente fez é repulsivo. Mostra, como definiu Felipe Santa Cruz, crueldade e a falta completa de empatia que os seres humanos têm uns em relação aos outros. O presidente brinca com o sentimento de um filho que nunca conviveu com o pai porque ele foi morto aos 26 anos.
Mas ao se colocar como o conhecedor dos segredos da ditadura, ele diz que há informações sonegadas ao país, que ele sabe onde estão. Nunca ficou tão claro que as Forças Armadas mentiram quando disseram não ter como recuperar os fatos. Nunca souberam, por exemplo, dizer as circunstâncias da morte de Vladimir Herzog, onde foi posto o corpo de Rubens Paiva, como foi assassinado num quartel da Aeronáutica o jovem Stuart Angel. As famílias dos muitos mortos e desaparecidos sempre quiseram a reparação da informação. Pediram a verdade. E tiveram como respostas o “nada sabemos”. E por isso é que um dia um bravo deputado, Alencar Furtado, fez um discurso libelo em nome dos filhos do “talvez”, os órfãos do “quem sabe”. Alencar Furtado foi cassado pelo AI-5 pelo que disse. Na íntegra aqui.