Retórica do capitão vai
do excremento à asneira

Por Josias de Souza, no UOL:

A língua de Jair Bolsonaro dá ao seu dono a aparência de um sujeito escrachado —do tipo que, avesso ao hábito de ouvir e dotado da dificuldade de ler, cultiva a mania de falar dez vezes antes de pensar. Improvisadora contumaz, a língua ultrapassa as fronteiras do paroxismo. Vão resumidas abaixo três cenas das últimas 72 horas. Ajudam a compreender o drama.

1) Na saída do palácio residencial do Alvorada, um repórter perguntou ao capitão se ele acredita ser possível harmonizar preservação ambiental com crescimento econômico. A resposta foi positiva. A língua lecionou: “É só você fazer cocô dia sim, dia não”.

2) Nos salões do Planalto, Bolsonaro concedeu a um grupo de estudantes gaúchos o ar de sua graça. Exibiu-se aos visitantes com Sergio Moro a tiracolo. Atendeu gostosamente ao pedido para que autografasse uma camiseta. Repassou-a para Moro. Após acomodar seu jamegão sobre o tecido, o ministro devolveu a peça. E a língua, do nada, sapecou um “Lula livre!”, emendando uma gargalhada que deixou embasbacado o ex-juiz da Lava Jato.
3) Numa transmissão ao vivo pela internet, Bolsonaro facultou a Sergio Moro a oportunidade de vender à plateia um pacote anticrime que, horas antes, a língua dissera não ser mais prioritário. Ao final, Moro pediu licença para “trocar de lugar” com o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente). A língua não perdeu a piada: “Vai fazer um troca-troca com o Salles aí?” Às gargalhadas, aconselhou: “Troca só a cadeira…”. Leia mais.

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