Os blogueiros de crachá

De Felipe Moura Brasil, na revista Crusoé, em mais um escândalo nacional, em que bolsonaristas utilizam estratégias iguais (ou piores) que os petistas:

Mensagens de WhatsApp revelam com bolsonarista. Como são combinados osen~ ‘tropa’, a operação com dinheiro público, as estratégias para interferir nos rumos do governo e o fogo amigo contra Moro, Paulo Guedes e os generais: a reportagem a seguir leva você para dentro do universo da tropa de Allan dos Santos e companhia.
Até um blogueiro de crachá sabe a diferença entre conversas roubadas por meio da violação criminosa de um aparelho de telefone celular e conversas obtidas por intermédio de uma ou mais fontes que delas tenham participado.
Tanto é assim que Allan dos Santos, responsável pelo site bolsonarista Terça Livre, publicou em fevereiro de 2019 um áudio do também blogueiro Luciano Ayan, originalmente enviado em um grupo de WhatsApp do qual o próprio Allan não fazia parte. A conversa, avisou Allan, tinha sido vazada por um “infiltrado” que estava no grupo. ea áudio aqui. Eu vou mostrar uns audiozinhos aqui”, disse Allan, em transmissão ao vivo no Youtube. “Quer ver? Porque esse pessoal tem grupo, nél? Se eu mostrar o áudio, eles vão descobrir que a gente tem infiltrado lá dentro. Ó: [o blogueiro, então, dispara o áudio de Luciano] ‘Agora a ideia é esmagar o que resta da dignidade do povo brasileiro. Vai ser um jogo agora de imposição, de intimidação, vinda lá de fora. O cara vai botar a carteira na mesa. Vai dizer ‘á, se o Steve Bannon falou, tá falado. Vai ser uma merda, gente. É fada. Triste assistir ao que está acontecendo no Brasil.”‘
Em seguida, com risadas, Allan fez chacota do áudio: “Acabou, acabou. O Brasil tá uma merda. Esse aqui [do áudio] é o Luciano Ayan, num grupo em que está ele, o Renan Santos, do MBL… Tá uma merda. A gente está próximo do Steve Bannon, da Hungria, dos Estados Unidos, de Israel, vai acabar com a dignidade brasileira”.
Luciano considerou uma bizarrice a publicação do áudio, que não trazia qualquer informação relevante. “O mais bizarro é que o áudio vazado era uma versão muito light de um texto que havia sido publicado neste blog, ontem, no inicio da tarde”, escreveu ele, após mencionar o “nível do esgoto dessa gente”, que abre “um alçapão no fundo do poço moral”.
Eu, Felipe Moura Brasil, não precisei de alçapão, nem de hackers, muito menos de dinheiro, para ter acesso a conversas privadas “dessa gente”. Bastou exercer o jornalismo, convencendo uma parte dissidente do grupo a me mostrar sua comunicação com os então companheiros.
Esse material, à diferença daquele vazado por Allan dos Santos, é bem mais relevante para os pagadores de impostos do Brasil porque complementa e corrobora o trabalho que eu já vinha fazendo de mapear cargos, remunerações e até os padrinhos dos envolvidos.
Com participação de assessor da Presidência da República, investidor do mercado financeiro próximo ao presidente, assessores em assembleias estaduais e órgãos municipais, além de blogueiros de crachá instalados no Palácio do Planalto, os diálogos e confissões mostram como atua a militãncia virtual bolsonarista, abrigada e remunerada com dinheiro público em gabinetes políticos. Exatamente como operava, nos governos anteriores, uma parte da militãncia virtual petista. Leia mais.

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