Sociedade civil repudia declaração
de Eduardo Bolsonaro sobre AI-5
Organizações lançam nota pública em defesa do Estado democrático de direito
Mais de 50 organizações do Pacto pela Democracia, coalizão de organizações e movimentos da sociedade civil, lançam nota de repúdio contra a fala do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL/SP) em entrevista ao programa da jornalista Leda Nagle nesta quinta-feira (31). Para o deputado, uma das formas de lidar com as crises e críticas que o governo de seu pai tem sofrido seria convocar um “novo AI-5”.
O AI-5, criado em 1968, institucionalizou a repressão, marcada pela censura, perseguição a adversários políticos, prisão, tortura e execução, além do fechamento do Congresso Nacional e Assembleias Estaduais. A nota pública divulgada pelas organizações ressalta a importância de resguardar as liberdades, as instituições e a democracia. De acordo com o documento, o decreto foi responsável por “minar as liberdades democráticas, resultando em 20 mil vítimas de tortura, mais de 400 mortes e desaparecimentos, sete mil pessoas exiladas e 800 prisões por razões políticas”.
Não é a primeira vez que Eduardo ataca as instituições e os ritos democráticos do Estado de direito. Em julho de 2018, Eduardo disse em uma palestra que “Se quiser fechar o STF você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo”. As organizações alertam para o histórico de desapreço à democracia e de elogios a ditadura da história brasileira.
Confira a nota completa:
AI-5 NUNCA MAIS – Mais uma vez o desprezo pela democracia e seus princípios fundamentais se manifesta em declarações da família Bolsonaro. Desta vez, Eduardo, deputado federal eleito por São Paulo, afirmou que a reedição do Ato Institucional nº 5 seria um dispositivo do qual lançaria mão a fim de conter a “radicalização da esquerda no Brasil”.
Em 1968, o AI-5 institucionalizou a repressão e agravou severamente atos de censura, perseguição a oponentes políticos, prisões, torturas e execuções, além de ter determinado o fechamento do Congresso Nacional e Assembleias Estaduais. Foi o decreto responsável por minar as liberdades democráticas, resultando em 20 mil vítimas de tortura, mais de 400 mortes e desaparecimentos, sete mil pessoas exiladas e 800 prisões por razões políticas.
Ameaçar a ruptura da institucionalidade democrática, promover o avanço de medidas autoritárias e incentivar o apelo à barbárie é inadmissível em uma sociedade democrática. Essa atitude deve ser rechaçada e punida de forma rigorosa pelo conjunto dos cidadãos e cidadãs, atores políticos e instituições que zelam pelo Estado Democrático de Direito e acreditam que só há construção possível dentro da democracia.
Declarações dessa natureza por parte de lideranças políticas do governo federal ecoam desde o início do ano. Além disso, a recente afirmação dá sequência ao histórico de desapreço à democracia e elogios a períodos autoritários da história brasileira pelo Presidente da República.
Diferentemente do que diz Eduardo Bolsonaro, um país forte pressupõe um Estado democrático, instituições sólidas e indivíduos livres.
As organizações subscritas abaixo manifestam profundo repúdio e exortam democratas das mais diversas identidades políticas a expressarem igualmente seu rechaço a essa ameaça antidemocrática.
- Abong – Associação Brasileira Organizações Não Governamentais
- Atados
- Bancada Ativista
- Centro de Promoção da Saúde – CEDAPS
- Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC)
- Cidade Escola Aprendiz
- Delibera Brasil
- Departamento Jurídico XI de Agosto
- Fundação Avina
- Fundação Tide Setúbal
- Frente Favela Brasil
- Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero
- Goianas na Urna
- Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para Agenda 2030 – GTSC A2030
- Imargem
- Intervozes
- Instituto Alana
- Instituto Construção
- Instituto de Defesa do Direito de Defesa – IDDD
- Instituto de Desenvolvimento Sustentável Baiano – IDSB
- Instituto Ethos
- Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial
- Instituto de Estudos Socioeconômicos – Inesc
- Instituto Para o Desenvolvimento Sustentável – IDS
- Instituto Physis
- Instituto Sou da Paz
- Instituto Terra, Trabalho e Cidadania – ITTC
- Instituto Update
- Instituto Vladimir Herzog
- Intervozes
- Justiça Global
- Livres
- Legisla Brasil
- Mapa Educação
- Move Social
- Movimento Nossa BH
- Movimento Acredito
- Ocupa Política
- Oxfam Brasil
- Pacto Organizações Regenerativas
- Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político
- Pulso Público
- ponteAponte
- Raiz Cidadanista
- Rede Justiça Criminal
- Rubens Naves, Santos Jr
- Szazi, Bechara, Storto, Reicher e Figueirêdo Lopes Advogados
- TETO Brasil
- Transparência Capixaba
- Transparência Partidária
- WWF Brasil
- 342Artes
- 342Amazônia
Pacto pela Democracia
Plataforma de ação conjunta ampla e plural, que reúne mais de 120 organizações sociais, além pesquisadores (as), ativistas, servidores públicos e lideranças políticascom e sem mandato dos mais variados partidos para, 0juntas e juntos, defender e aprimorar a democracia brasileira. Tem como principais objetivos promover a cultura democrática, valorizando o pluralismo, a tolerância e o engajamento cidadão nos marcos da democracia.