Por que critico o presidente da República
Por Donizete de Oliveira:
Tenho visto comentários de que não é momento para críticas políticas partidárias e divisões de classes. De fato, não. O momento exige união para combater a grave crise do vírus. Mas este exemplo deveria vir do presidente da República do Brasil, portando-se à altura do cargo que ocupa.
Minhas críticas a ele, neste momento, não levam em conta partidos ou ideologias. Por exemplo, eu discordo, politicamente, do governador Dória, de SP, e Caiado de Goiás, mas eles agem conforme deve, seguindo as orientações da OMS e de autoridades sanitárias no combate ao vírus.
Critico o presidente da República porque o vejo como grave ameaça ao país ao propor o fim do isolamento social. A depender dele, caminhamos para uma hecatombe. O Brasil dispõe de 61 mil respiradores (aparelhos utilizados nos casos graves de covid-19). Se a pandemia se agravar vai sobrar gente deitada esperando a morte na porta dos hospitais. Estamos cansados de ouvir isto, mas o presidente não entende ou não quer entender.
Então, caros, estou preocupado. O detentor do cargo maior da nação parece interessado na necropolítica (termo desenvolvido pelo sociólogo camaronês Achille Mbembe, que define quem deve viver e quem deve morrer, no nosso caso, muitos morreriam).
Um presidente da República, numa crise assim, deve centralizar as ações. Criar um “gabinete de crise” e formar um colegiado para tomar decisões em várias frentes. Ouvir os especialistas e só falar à nação sobre assuntos técnicos aquilo que foi decidido com os membros de tal conselho.
Mas, não. O chefe da nação faz tudo ao contrário, cercado por filhos, alguns generais sem comando e bajuladores. Sinto-me no dever de criticá-lo. Não sei se adianta, mas é a única arma de que disponho sem poder ir às ruas ou reunir com pessoas. Se ele baixar um decreto, como disse, determinando o fim do isolamento social, o perigo que já nos assombra baterá à nossa porta; se não a abrirmos ele arrebentará a taramela e entrará.
A crise econômica é grave e será mais se rompermos o isolamento agora. Na frente, no pico da pandemia, como preveem os especialistas, o morticínio será maior, retardando o retorno à vida normal e agravando a situação econômica.
O presidente da República imita “Procusto”, na mitologia, um bandido que vive numa floresta. Ele captura os que cruzam seu caminho para os deitarem em seu enorme leito. Mas todos têm de se adaptar ao tamanho da cama. Os maiores, eles os corta, decepando as pernas; os pequenos, ele os estica, estrangulando ossos e músculos.
Repito, neste momento, minhas críticas ao presidente da República não são partidárias ou ideológicas. Se ele fosse responsável e condizente com o cargo que ocupa, mesmo não o apoiando, estava eu quieto, obedecendo às regras em busca da minha sobrevivência e ajudando a preservar a vida da maioria.
Desculpe-me o chavão. Estou no mesmo barco (barquinho). Sou autônomo, sem salário fixo. Mas meu norte agora é a vida. Oxalá o presidente da República fizesse coro à minha vontade.
(*) Jornalista e historiador em Maringá. Publicado originalmente em seu perfil no Facebook
(Foto: Isac Nóbrega/PR)
Faça parte do nosso grupo no WhatsApp – Clique aqui
Faça parte do nosso grupo no Telegram – Clique aqui