A velocidade da curva e gripe espanhola

Por Jorge Villalobos:

Em Guararema na data de 8 de setembro de 1918 se apresentou o primeiro caso da epidemia, cabendo ao dr. Braulio Goulart, inspetor sanitário de São Paulo, fazer as primeiras orientações, todas elas de caráter profilático.

Al notícia era seguida com os dados do que ocorria em Europa, especialmente na Espanha, que não estava em conflito e da qual chegavam notícias preocupantes, em especial, das centenas de mortes. Porém, as informações que vinham da França referiam a números de pequenos focos. Sendo que em 22 de setembro de 1918, a notícia da gripe vinha da Missão Médica Brasileira cujo navio estava em Dakar a caminho da Europa.

A gravidade da doença começa ser conhecida, principalmente pelas notícias da imprensa livre espanhola, que havia informado do falecimento do Rei Afonso XIII e membros do seu governo. Assim, a partir dos dados espanhóis, se constatava que a doença nada tinha de benigna, mas apresentava um elevado percentual de mortalidade. Inclusive, a notícia da epidemia que afetava os navios da marinha, com mais de 89 óbitos, deixou o estado de espírito do ministro da guerra acabrunhado.

Já no dia 23, a notícia da passagem do transatlântico Damerara, com a morte de seis passageiros, acompanhada de relatos da evolução médicas dos casos, construíam um quadro da doença, que nada tinha de benigna. Porém, a menos de três meses de assumir o novo presidente da república, Rodrigues Alves, previsto para 15 de novembro de 1918, as notícias da doença começaram a ser atribuídas aos derrotados nas eleições de março. Mas, as notícias de Espanha, novamente demonstravam que a situação tinha gravidade, uma vez que as Cortes, somente retornariam, provavelmente, em finais de outubro, ou seja, uma quarentena de mais de 40 dias. Tanto é assim, que em Recife, governistas insistem em que se trata de uma campanha dos jornais de oposição, sendo que os óbitos somente estavam relacionados com “velhos e pessoas predispostas por outras moléstias”.

Não tendo acometido o óbito a “pessoas robustas”, nessa mesma linha esteve a palestra na Academia de Medicina do dr. Carlos Seidl quando afirmava que era “recommendavel a rigorosa antiseptia da boca e das fossas nasaes”. Porém, em 13 de outubro as notícias provenientes do Rio de Janeiro eram gravíssimas e o sr. Carlos Seidl, declarava que a única medida de consenso médico era “evitar a frequência dos logares confinados e onde haja aglomeração de pessoas”. No dia anterior o sr. Luiz de Freitas, dono da barbearia da rua Santa Rosa n. 275, adoeceu com gripe, ficando em estado grave. No dia seguinte, as 13 horas, quando tomava um copo de leite, ele veio falecer. O caos estava instalado, mais de duzentas mil pessoas doentes na capital.


(*) Professor em Maringá

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