A gripe viajou de navio
Por Jorge Villalobos:
Em 1918, quando a gripe espanhola, influenza, espanhola ou a doença da bailarina, como fora denominada, cruzou os continentes, veio, lentamente, de navio; porém, quando chegou no porto, em poucos semanas os doentes não podiam mais ser contados e que dizer dos mortos que aguardavam dias para serem enterrados.
No Brasil, a doença chegou primeiro à cidade de Recife, especificamente, aos armazéns do porto onde desembarcaram os passageiros com a influenza espanhola, no dia sete de setembro de 1918.
Esses passageiros vinham a bordo do “grande transatlântico” inglês Demerara (foto), de propriedade da Royal Mail, que fazia a rota Liverpool Buenos Aires, e do qual seriam desembarcadas 350 toneladas de mercadorias e embarcados 1.700 sacos de açúcar com destino ao Rio da Prata.
Nesse porto o navio ficou três dias, sendo que na sua chegada noticiou-se que no trajeto entre Liverpool e Lisboa haviam sido jogados ao mar três passageiros e que no trajeto Lisboa – Recife mais outros haviam falecido da gripe, todos passageiros de terceira classe.
Ainda, na rota do porto de Recife, passando pelo porto de Salvador na Bahia, até o porto do Rio de Janeiro, mais outros três passageiro e um tripulante, também haviam falecido.
Vale lembrar que na viagem em direção ao sul, 20 dias depois da passagem por Salvador, podia ser lido no jornal A Tarde que haviam “cerca de setecentos enfermos nos quartéis, nos hospitais, em casas particulares e em todos os centros de aglomeração de operários” com a gripe.
Em Buenos Aires, um dos portos do rio da Prata, o jornal La Nación noticiava que a doença havia desaparecido completamente do navio, isso ao sair do porto do Rio de Janeiro, porém, o Demerara entrou no porto de Montevideo no dia 23 de setembro de 1918, com seis pessoas mortas e 22 infetadas.
Aliás, não seria somente o Demerara que levaria à gripe até os portos de Montevidéu e Buenos Aires, também estava o vapor Le Liger, de bandeira Francesa, que havia estado no porto de Dakar, centro da disseminação da epidemia para os navios transatlânticos e de carga, e que também havia passado pela Bahia, Rio de Janeiro e Santos.
Ao que tudo indica, desse navio veio a terra o cidadão de origem francês, de nome Paddy Fadre, que foi atendido e faleceu no hospital local, ele seria “considerado como o caso zero” da epidemia em Buenos Aires.
Além dos navios já referidos, está o Reina Victoria Eugenia, que fazia a línea do Prata e que era da Companhia Transatlântica de Barcelona, o qual havia partido desse porto no dia 4 de Setembro e chegou à Montevideo no dia 23 de setembro, com 300 tripulantes, 1.026 passageiros, dos quais 186 de primeira classe, 118 de segunda e 716 de terceira, havendo sido relatados os óbitos de 3 passageiros, além de que outros três foram internados para atendimento em hospital local, e todos os outros liberados.
Depois disso, a doença multiplicou-se rapidamente, alcançando, do total de 1.00.000 de habitantes em Buenos Aires, aproximadamente, 400.000 foram atacados, sendo contabilizados 700 mortos, tudo num prazo de 25 dias.
Vale lembrar que dentre as medidas no combate à epidemia nessa cidade se fecharam as escolas por 10 dias, se ordenou a internação no lazareto da ilha Martín García, de todos os viajantes vindos de Europa, e se determinou à população evitar as aglomerações em lugares de culto, os quais deviam ser desinfetados. Também, se decretaram as inspeções nas oficinas e fábricas e se fecharam as salas de espetáculos. Mas, a gripe continuo a avançar em território argentino, em direção ao interior, as vias terrestres foram, a seguinte rota.
(*) Professor em Maringá
(Imagem: Wileman’s Brazilian Review)
