A Marcha da Produção

Maringá, 18 de outubro de 1958. Tudo pronto para a partida da Marcha da Produção, rumo ao Rio de Janeiro, para um protesto em frente ao Palácio do Catete, então sede do governo federal. Juscelino Kubistchek era o presidente da República. Seria um evento épico, provavelmente o mais marcante de toda a história da cafeicultura.
Produtores de café convalesciam de uma série de desoladoras geadas, situação agravada por longas secas e incêndios nas áreas rurais. A economia da região, que dependia fundamentalmente da rubiácea, padecia fortemente as consequências da crise. Para completar, o governo JK parecia insensível e batia pesado nas costas da agricultura com uma perversa política de preços para os produtos do campo e, pior ainda, impondo sobre o café um malfadado confisco cambial. Daí estarem todos com os nervos à flor da pele, criando clima para a preparação de um vigoroso movimento a que se deu o nome de “Marcha da Produção”.
“Café não é brinquedo do governo”, diziam as faixas empunhadas por homens, mulheres, jovens, reunidos em Maringá para a partida em direção à antiga capital. O esquema era assim: sairiam daqui duas caravanas, a de Maringá e a de Paranavaí, que se juntariam adiante com as caravanas de Londrina e Jacarezinho. Em Ourinhos, entrariam na Marcha os cafeicultores paulistas, aos quais se somariam mais à frente produtores mineiros, fluminenses e capixabas. Seria um tsunâmi de gente do campo batendo às portas do Catete.
Como tudo o que se referia ao café afetava a vida de toda a população do norte-noroeste do Paraná, o movimento recebeu total apoio dos bispos de Maringá, Dom Jaime Luiz Coelho, e de Londrina, Dom Geraldo Fernandes, bem como de Associações Comerciais, Clubes de Serviços e outras entidades. Na liderança dos cafeicultores, destacavam-se o maringaense Renato Celidônio e o londrinense Álvaro Godoy.
Ao som de rojões, a caravana pegou a estrada após a bênção de Dom Jaime, que de batina branca foi no primeiro jipe, ao lado de Celidônio. Centenas de veículos – jipes, caminhões, automóveis, tratores. A expectativa era chegar ao Rio com cerca de 40 mil pessoas.
Deu-se, porém, que a Marcha foi interrompida antes de chegar a Marialva. O caminho estava bloqueado por uma barricada formada por soldados do Regimento de Infantaria do Exército de Ponta Grossa. Ante os manifestantes, que insistiam em romper a barreira, o major comandante, do alto de um tanque, fez o apelo: “Parem, irmãos, em nome da lei”. Dom Jaime e Celidônio tentaram convencer o militar a retirar a barricada, mas não houve jeito. Para evitar as consequências de um enfrentamento, a Marcha acabou ali.
Acabou, mas não acabou. A repercussão foi enorme em todo o país. O presidente JK tomou um susto ao ser informado do tamanho do protesto. Medidas importantes foram tomadas. Não a ponto de deixar contentes os cafeicultores, mas dando para acalmar um pouco os ânimos.
(Crônica publicada na edição de hoje do Jornal do Povo)
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