Gripe espanhola: O Comissariado e a gestão por quarteirões

O Governo do Estado do Rio Grande do Sul, à época presidido pelo sr. Borges de Medeiros (1913 – 1928), durante a crise da “gripe espanhola” determinou, por cecreto, a criação de 25 quarteirões médicos ou sanitários, os quais repartidos entre os 5 distritos – dentre os quais citamos os seguintes:

No primeiro distrito foi criado o 1º quarteirão, delimitado pela rua general Portinho e litoral; 2º Quarteirão, delimitado pelas ruas General Portinho, Bento Martins e Litoral; 7º Quarteirão, delimitado pelo litoral, ruas Marechal Floriano, Andrade Neves, General Câmara, Riachuelo, Paissandu até o litoral.

No segundo distrito criou-se o Quarteirão 17, o qual delimitado pela estrada do Mato Grosso, rua Larga e Caminho do meio até os confins do distrito.

Nesse mesmo período e a respeito do movimento da assistência aos enfermos atacados pela epidemia, a Diretoria de Higiene, forneceu à imprensa informações periódicas, sempre às 12 horas.

Como são, por exemplo, as seguintes informações do dia 30 de outubro de 1918:

1º Quarteirão, coordenado pelo Dr. Raul Pitta, foram verificados 3 casos novos e atendidos 37 enfermos e pedida uma remoção. Não houve requisições de medicamentos.

2º Quarteirão, coordenado pelo Dr. Waldemar Castro, foram atendidos 12 casos novos. Não houve requisições de medicamentos.

7º Quarteirão, coordenado pelo Dr. Silveira Netto, foram verificados 61 enfermos dos quais 22 tem assistência particular. Dezessete enfermos precisaram de requisições de medicamentos. Não havendo requisição de alimentos.

17 Quarteirão, coordenado pelo Dr. Júpiter Croá, foram verificados 41 enfermos dos quais doze com assistência particular e 28 aceitaram os socorros da autoridade pública para fornecimentos de medicamentos. Não havendo requisição de alimentos. Sendo reclamada uma remoção para hospital.

Vale destacar que as obrigações dos médicos de quarteirão eram visitar diariamente as casas de suas zonas, receitando aos doentes que precisarem de recursos, sendo estes fornecidos pelo Estado quando declarados pobres.

Deviam também, notificar à Diretoria de Higiene todos os casos que encontrarem, e diariamente ao meio dia enviar à Diretoria um relatório completo dos serviços realizados, o qual era utilizado para o informe à imprensa.

Deviam ainda recorrer aos postos para garantir a remoção dos doentes que não podiam ser tratados em domicílio, estando obrigados a requisitar da Diretoria os recursos alimentícios, caso precisarem as pessoas nos domicílios e indicar as faltas higiênicas encontradas.

Assim, com essa organização sanitária, que cobria toda a cidade, o gestor podia levar, diariamente, o socorro médico a qualquer ponto que o necessitasse e providenciar, imediatamente, sobre o caso declarado, os recursos médicos ou sociais necessários.

Além dos relatórios dos quarteirões sanitários, nos quais foi dividida a cidade de Porto Alegre, os relatos individualizados de cada unidade hospitalar, traziam as informações necessárias para entender a evolução da doença.

A modo de exemplo está o relatório de 30 de outubro de 1918 do Hospital São João, no qual existiam 52 enfermos, tendo tido alta 5 curados e ficando em tratamento 47 pessoas.

No Hospital no 1º Batalhão da Brigada Militar, na rua dos Andradas, no qual haviam 138 enfermos, entraram mais 36 e saíram 24. Ficando em tratamento 150 enfermos. Houveram 2 óbitos.

Esse hospital era o que se denomina de campanha e foi instalado em 48 horas, sendo deslocado o contingente para a chácara das Bananeiras. 

As informações e o controle da evolução da doença, eram resultado da atuação governamental, em especial da implantação da estratégia estabelecida no Decreto nº 2.380 de 30 de outubro de 1918, através do qual o Governo do Estado criou o “Comissariado de Abastecimento e Socorros Alimentícios”, e implantou a divisão da cidade em 25 quarteirões sanitários, que incluíam os 5 distritos urbanos.

O objetivo desse Comissariado era regularizar, de modo adequado os serviços de abastecimento nos hospitais, e prestar os socorros alimentícios, diretamente, nos domicílios onde se tornarem necessários durante a epidemia.

Assim, o chefe dessa entidade tinha o encargo exclusivo de adquirir e fornecer aos hospitais públicos, e aos domicílios particulares, mediante as necessárias requisições da Diretoria de Higiene, os viveres, dietas, medicamentos, utensílios, combustíveis, móveis e roupas que forem reclamados.

A crise que vivia o Rio de Janeiro, certamente, foi determinante para essa estratégia, uma vez que no telegrama, de 23 de outubro de 1918, enviado ao Governado do Estado pelo Ministro do Interior Carlos Maximiliano, este informa que 95% (noventa e cinco por cento) dos casos fatais na Capital da República, ocorrem entre pessoas miseráveis. 

O Comissariado era constituído por funcionários da fazenda, os quais além do salário regular receberam gratificações, em razão da árdua tarefa.

Tal órgão se regeu, pelas instruções e ordens emanadas, tanto da Presidência do Estado, quanto da Secretaria da Fazenda.

Ainda, o Governo do Estado contratou alguns médicos e doutorandos em medicina, para realizarem as visitas domiciliares, diariamente, isso as diferentes zonas nas quais foi dividida a cidade. 

A Diretoria de Higiene, também havia publicado um edital, com a finalidade de dar suporte ao controle da situação; assim, abriu chamamento público para concorrência de fornecimento de “colxões de palha” de “fazenda comum e tamanho usual”, sendo que as propostas eram recebidas na mesma sede da Diretoria a qualquer hora e dia.

Ainda, em virtude da situação de emergência, todo o estoque de “gazolina” existente na praça ficou à disposição da Diretoria de Higiene do Estado, devendo os médicos, na medida que forem necessitando fazer uma requisição diretamente ao Diretor.

Também, de modo a prever a carestia de alimentos básicos, foi limitada a exportação de farinha de mandioca e a exportação de feijão preto.

(Imagem: Planta do Iº distrito de Porto Alegre: distribuída em 22 quadras de patrulha. Biblioteca Nacional)

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