Segundo os informes do dr. Ch’uan Shao Ching, professor de Medicina, Terapêutica e Jurisprudência Médica no Colégio Médico Imperial e oficial médico no Hospital Pei-Yang em Tientsin, teria sido identificada na estação de trem, da rede a Ferroviária do Extremo Oriente da China, que conecta a Sibéria com o nordeste da China, na estação de Manchouli, próximo com a fronteira da Rússia, em 12 de outubro de 1910 um caso da peste de Manchúria ou doença de Manchúria.
Já no dia 27 de outubro, seria constatada a mesma doença na cidade de Harbin, onde hoje se realiza o famoso Festival Internacional de Escultura em Gelo e Neve, especificamente, no subúrbio de Fuchiatien e que teria sido trazida por um viajante de trem chegado de Manchouli, distante a 940 Km.
Segundo se apurou na época, principalmente, pelos estudos apresentados na Conferência de Saúde de Mukden, em abril de 1911, a doença havia sido trazida por habitantes da região que vieram pegar o trem, a fim de fugir de sua aldeia, onde haviam ocorrido casos entre caçadores de “tarbagans” (Arctomys bobac), uma marmota comum em essas regiões, da qual se obtinham peles para o comércio.
Assim, a conferência de Moukden admitiu que a epidemia se originou de “tarbagans”, mas não pôde provar a existência, nesses animais, da infecção natural antes da epidemia ser declarada.
Verificou-se, no entanto, que a doença existia na região há vários anos, porém, em um estado esporádico, e os casos registrados, anualmente, durante o período de caça ao “tarbagan”, pareciam estar ligados à doença natural nesses animais.
Ocorreu, que nos anos anteriores, no entanto, houve uma demanda excepcional para as peles de marmota vinda dos mercados da Europa e de Estados Unidos, e numerosos trabalhadores coolies (trabalhadores migrantes, quer indianos, quer chineses), viram nisso uma fonte de renda, passando então a caçar os animais, indiscriminadamente, bem como servindo-se da carne deles como alimento.
Se relatou que, em 1909, nos meses de caça que era de gosto a meados de outubro, haviam 10.000 desses caçadores comercializando peles.
O dr. Ch’uan descobriu que os sintomas da doença, sofridos por esses caçadores, eram dores de cabeça, febre e um cuspir expectoração na cor de sangue, seguida pela morte rápida, mas como os casos eram poucos, estes não foram suficientes para atrair atenção médica.
Más, quando se espalhou o fato de que a peste em Manchouli, dizimava centenas de pessoas em poucos dias, já na notificação do primeiro caso em Fuchiatien, no mesmo dia 27 de outubro, se colocou em ação um programa de combate à peste, o qual implantado pelo poder público municipal, através de um comitê técnico.
Este programa consistiu nas seguintes ações:
1. Estabelecimento de um local central para o controle da peste, com isolamento e observação de pacientes, sob a gestão de médicos e enfermeiros;
2. Divisão da cidade em oito distritos, para fins de controles sanitários, incluindo a inspeção e vigilância de pessoas que passavam pela cidade;
3. Em relação à questão da desinfecção, decidiu-se por proceder à queima de artigos de pequeno valor e devolver aos proprietários uma soma de valor correspondente; para artigos de maior valor, foram habilitadas duas salas de desinfecção;
4. Convidou-se a vir até a cidade, para contribuir no controle da doença, uma equipe de médicos da Rússia;
5. Se habilitaram um número adequado de carros sanitários para a limpeza da Cidade.
6. Foram nomeados agentes sanitários, para realizar as explicações sobre a praga, e fora iniciada a publicação de panfletos em língua chinesa, para familiarizar a população com a natureza da epidemia.
Evidente que a cidade não estava preparada para enfrentar a doença, porém, esse conjunto de medidas racionais permitia organizar melhores condições de atendimento.
Mas, considerando a época tecnológica e as condições sanitárias dominantes nessa região, os primeiros casos da “peste” não puderam ser suficientemente localizados, investigados e controlados.
Assim começa esta história.
(*) Jorge Villalobos é professor em Maringá
Fonte: Richard P. Strong et al. Report of the International plague conference held at Mukden. Manila: Bureua of Printing, 1912.
(Fotografia. Documentos do Dr. Richard Pearson Strong, em repositório na Francis A. Countway Library of Medicine da Universidade de Harvard, e podem ser acessadas usando o mecanismo de busca VIA (Visual Information Access). Praga da Manchúria de 1910-1911)
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