O controle da doença na província de Manchúria em 1910

A estreita ligação tanto comercial quanto industrial entre Harbin e Fuchiatien foi, muito provavelmente, o principal fator na extensão da doença de Manchúria; assim, a evolução paralela dos números da peste em ambos lugares, ficou bem ilustrada pelos gráficos da curva da epidemia.

Harbin era um centro administrativo do sistema ferroviário do leste da China, além de ser um grande centro comercial e exportador do extremo oriente, atraindo um grande número de trabalhadores.

No verão de 1909, haviam chegado cerca de 60.000 novos moradores, dos quais 5.000 eram russos. Os demais eram chineses vindos de Yantai (Chefoo) cidade do norte da província de Shandong, e do sul da Manchúria.

Essa população se havia estabelecido em Harbin em condições precárias de moradia, principalmente, em habitações no setor comercial da cidade, denominado de Pristan, vivendo, principalmente, em casas construídas de barro, escuras e sujas, sem pisos e janelas feitas com papelão.

Sendo que muitas vezes o número de pessoas que vivem nessas casas é de cinco a dez vezes maior do que se poderia supor, a julgar pelas dimensões dos prédios.

Não havia esgotos, sistema de abastecimento de água, sistema regular de remoção de resíduos, e inexistia qualquer prevenção sanitária, minimamente, eficiente para garantir a saúde da população frente à propagação da epidemia.

Em síntese, uma cidade em expansão, porém com baixo padrão urbanístico, com ruas estreitas, poeirentas, escuras e planejamento geral incipiente, mas dentro de uma região geográfica altamente dinâmica, em razão do sistema ferroviário e portuário, que permitia o escoamento de recursos naturais e mão de obra.

Assim, com o aumento da epidemia em Harbin, Fuchiatien e no eixo do território ferroviário, as medidas preventivas seguiam o plano elaborado pelo comitê executivo municipal de saúde, com base no conselho técnico de Daniil Kirilovich Zabolotny (1866–1929) professor de Bacteriologia do Instituto Imperial de Medicina Experimental de São Petersburgo e chefe da Comissão Russa na Investigação da doença na China, as quais eram as seguintes:

1. Um aumento da vigilância sanitária sobre a saúde da população;

2. Localização precoce dos centros da doença e isolamento dos casos;

3. Melhoria das condições domésticas para as classes mais pobres;

4. Estabelecimento de refúgios noturnos e casas de alimentação para os trabalhadores e desempregados;

5. Estabelecimento de postos de controle para inspeção médica de todas as pessoas que estavam chegando na cidade;

6. Desinfecção cuidadosa de casas e roupas.

Em Harbin os proprietários das hospedagem e casas de ópio expulsavam os doentes e jogavam os cadáveres na rua, o mais longe possível das casas, por isso, a maioria dos corpos de mortos, decorrentes da doença, foram encontrados nas ruas.

Mas, com a expansão da epidemia, lembrando que morreram 60.000 pessoas, os doentes e cadáveres foram encontrados na maior parte dos bairros pobres, indicando que os locais de infecção eram justamente esses.

Veja-se, que a situação se agravou tão rapidamente, em razão da propagação e evolução da própria doença, que a primeira evacuação em massa da população foi realizada na manhã do dia 24 de dezembro de 1909.

Destaque-se que foram removidas 1.413 pessoas para observação, essa medida foi a primeira do ponto de vista histórico com a finalidade de controlar diretamente uma doença, na qual famílias inteiras eram destruídas no decorrer de alguns dias.

Também a primeira que, efetivamente, realizou uma interferência direta na vida familiar, uma vez que houve a rápida separação de um caso de doença na família e sua remoção para o hospital, ou para outros locais de isolamento sanitário.

Além disso, e considerando que a doença se espalhava, seguindo a dinâmica estabelecida pelo transporte ferroviário de pessoas, as medidas de controle de mobilidade da população foram a quarentena ferroviária.

Assim, as primeiras ações preventivas, adotadas nas ferrovias, foram a inspeção médica de passageiros, com medição de temperatura nas estações mais importantes, e o isolamento daqueles encontrados infectados.

Porém, essa medida fora logo considerada insuficiente para impedir o transporte da peste, por pessoas no período de incubação da doença, ou seja, pelos assintomáticos.

Veja-se que as estações de quarentena, tinham a capacidade de isolar de 500 a 5.000 pessoas, sendo as mesmas estabelecidas nas estações mais importantes, e nas quais os viajantes eram detidos, sob supervisão médica, de cinco a sete dias e depois de certificado que estava livre de infecção podia continuar viagem.

Assim, a venda de passagens ferroviárias dependia de autorização de viagem e foi cancelada em estações que não dispunham de condições para realizar a inspeção e quarentena.

A medida também objetivava garantir que a doença não chegasse até Pequim, Tientsin e o sul de Manchúria.


(*) Jorge Villalobos é professor em Maringá

Fonte: Richard P. Strong et al. Report of the International plague conference held at Mukden. Manila: Bureua of Printing, 1912.

Fotografia. Controle de temperatura em Fuchiaten. Documentos do dr. Richard Pearson Strong, em repositório na Francis A. Countway Library of Medicine da Universidade de Harvard, e podem ser acessadas usando o mecanismo de busca VIA (Visual Information Access). Doença da Manchúria de 1910-1911.

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