Fascismo à brasileira

Por Eduardo Siqueira

A versão brasileira do fascismo, o bolsonarismo, causaria espanto até mesmo em Mussolini. Parece ter algo de esquizofrênico. Nessas paragens, em vez de camisas pretas, os adeptos do “feixe de varas” vestem verde e amarelo. Fazem marchas nos fins de semana, carregando orgulhosamente a bandeira dos Estados Unidos, ao lado da do Brasil. Ameaçam e agridem jornalistas, servidores públicos e quem mais estiver no caminho, com muita liberalidade.

Para o fascista tupiniquim, a pandemia é uma fraude. O mundo todo, em conluio com cientistas, com a ONU, está mentindo. As imagens de caixões amontoados em valas comuns, ou mesmo nas calçadas, são apenas uma farsa encenada por comunistas e exagerada pela imprensa.

Tenho lido, visto e ouvido, em Maringá e Brasil afora, bolsonaristas esbravejarem por aí, clamando por liberdade. Pensam que a liberdade individual deve ser um direito absoluto, intocável pelo Estado, como se sair livremente, sem necessidade em muitos casos, tocando coisas e pessoas, formando aglomerações, aumentando o risco de contaminação, não fosse um flagrante crime de saúde pública.

Logo, começo a achar que em breve os fascistas vão clamar também pela legalização do aborto, liberação das drogas, disseminação da ideologia de gênero. Essas coisas que interessam muito mais aos bolsonaristas do que a superação da fome e da miséria. Vão pedir a extinção do alistamento militar obrigatório, do voto obrigatório. Vão reivindicar o direito de dirigir embriagado, de fumar em ambiente fechado, de espalhar mentiras e calúnias pela internet.

Os arautos da liberdade individual, por outro lado, são saudosos da ditadura militar. Aquele regime em que políticos foram cassados arbitrariamente, em que artistas, jornalistas, intelectuais e trabalhadores comuns foram perseguidos, exilados, torturados e/ou assassinados, na maioria das vezes por discordar publicamente das atrocidades cometidas em nome da pátria. A história sabe que os militares não caçaram apenas guerrilheiros comunistas, por mais que tentem adulterar o passado. É verdadeiramente estranho o fetiche que os fascistas têm por homens de farda e pistolas.

Na minha pobre opinião, e na de muita gente, a liberdade individual não deve prevalecer sobre o bem-estar coletivo. Isso é uma questão simples de autopreservação da sociedade, de viver em comunidade de forma saudável. Meu direito não pode ameaçar o direito à vida do outro. Quem pode, deve sim ficar em casa, o máximo possível, como forma de proteger aqueles que não tiveram escolha: os heróis da saúde, da segurança, da fiscalização, do transporte, da limpeza pública, dos cemitérios e dos setores que foram forçados a voltar ao trabalho para fugir do desemprego.


(*) Eduardo Siqueira, ex-dirigente do Sismmar Gestão Novos Rumos

(Ilustração: GGN)

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