Em 99, notícia era a seca no lago do Parque do Ingá

A edição de 7 de novembro de 1999 trazia reportagem de Vanda Munhoz n´O Jornal sobre algo que parece ser cíclico: a seca no lago do Parque do Ingá. A situação piorou com a flexibilização feita nas administrações do PP, que permitiriam a construção de prédios no entorno do parque. Confira a reportagem, em que foi ouvido o professor Issa Jabur:

As minas de água do Parque do Ingá, em Maringá, estão praticamente secas. Algumas apresentam um pequeno volume de água. A escassez vem chamando a atenção dos frequentadores desde o período de estiagem, durante o inverno deste ano. A administração do parque não fala sobre o assunto e a Secretaria do Meio Ambiente diz que o volume de água está normal. Geólogos dizem que o lençol freático pode estar comprometido por diversas causas, entre as quais a pavimentação asfáltica. O secretário do Meio Ambiente, Hamilton Cardoso, diz que não há problemas com as nascentes. “Inclusive”, acrescenta, “há um laudo da Universidade Estadual de Maringá (UEM) comprovando que a água é potável”. Na avaliação dele, não há possibilidades de as minas secarem. “Se tivesse que diminuir, teria acontecido durante a seca, mas nem nesse período houve redução de água. Agora estamos em época de chuvas e a produção continua normal”, diz ele. A paisagem do parque, no entanto, não confirma as declarações do secretário. Uma das nascentes mais visitadas, que abriga o altar de Nossa Senhora Aparecida – onde milhares de devotos fazem orações, pagam promessas e agradecem graças obtidas – , não tem uma gota d’água. Outras minas, não tão frequentadas, também estão completamente áridas. O lago, onde cisnes deslizam calmamente, ainda não demonstra a ameaça que os subterrâneos do parque podem estar sofrendo. Sexta-feira passada a reportagem de O Jornal do Povo visitou o local e comprovou isso. Mesmo após as chuvas que começaram em setembro, e até as que ocorreram durante a semana passada, não mudaram o cenário de aridez das nascentes. Visitantes mais antigos se recordam da abundância de água e preveem um futuro desanimador para o Parque do Ingá. Há informações de que as secas se tornaram frequentes nos últimos cinco anos.

GEOLOGIA – Os geólogos dizem que há vários motivos que podem ser os responsáveis pela escassez de água. “Mas é preciso observar e acompanhar todo o sistema para comprovar se realmente as nascentes estão secando e quais as causas”, comenta o professor de geologia ambiental Issa Jabur, do Departamento de Geografia da UEM. Ele destaca diversos fatores que podem causar a aridez do local. A pavimentação asfáltica, por exemplo, poderia estar impermeabilizando uma área importante para o parque e impedindo que o solo absorva a água da chuva. “As precipitações pluviométricas fazem a recarga do lençol freático que abastece o lago. Pode ser que agora, com as chuvas, ocorra a recarga e a produção de água volte ao normal dentro de 30 dias”, avalia o professor. Outras possíveis causas podem ser os poços artesianos, que em grande quantidade comprometeriam o lençol freático. As perfurações, no entanto, ultrapassam a profundidade do lençol de água e chegam a ter de 80 a cem metros. O geólogo explica que dificilmente os poços interferem no volume de água. mas em alguns casos pode “roubar” água do lençol.

REBAIXAMENTO– Esses fatores têm um resultado ainda mais sinistro: o rebaixamento do lençol de água. Conforme Jabur, normalmente o lençol situa-se entre oito e dez metros da superfície. Se o rebaixamento estiver ocorrendo, pode ser que o lençol tenha se aprofundado e se aproximado da rocha subjacente, que fica entre 15 e 20 metros da superfície. “Essas distâncias dependem da região”, frisa o professor.

IRREPARÁVEL – Se realmente as nascentes do Parque do Ingá estiverem comprometidas pouco se poderá fazer para salvar o sistema. O Parque do Ingá abriga um sistema ecológico invejável que atrai centenas de tu-ristas durante todo o ano. Considerado como o “pulmão verde” da Cidade, o local conta com centenas de animais e com as mais variadas espécies de árvores, tudo garantido pela perfeita sincronia da natureza que envolve água, terra e ar.

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