É quase a espera de um milagre
Por Nelson Teich, em O Globo:
Inúmeras cidades brasileiras estão tentando sair do isolamento social e retomar a atividade econômica. As tentativas acontecem de forma confusa, muitas vezes intempestiva, não sendo baseadas em critérios que mostrem a hora certa e a forma segura de relaxar o distanciamento.
Os movimentos acontecem sem uma coordenação central e são baseados em uma estratégia de tentativa e erro, que é ineficiente e não gera aprendizado.
Um problema crítico é que não temos as informações necessárias vindas das cidades. Descentralização do cuidado, com falta de coordenação e de dados, levou à fragmentação e à perda de eficiência do sistema.
O modelo atual para liberar a economia pode acabar em inúmeras idas e vindas, onde a mesma coisa é feita repetidas vezes na ilusão de que, em algum momento, vai funcionar. É quase a espera de um milagre.
Precisamos de dados, conhecimento e propostas mais eficientes para que a sociedade possa retornar a uma realidade que amenize todas as perdas, angústias e tristezas que temos atualmente.
O Brasil precisa de um programa nacional de abordagem do distanciamento, coordenado pelo Ministério da Saúde, que seja usado por todas as cidades. Na construção desse programa, é crítico que posições pessoais e políticas não se coloquem acima das necessidades da população.
Vamos precisar de pesquisadores e epidemiologistas para definir a melhor forma de desenhar, implementar e conduzir as pesquisas voltadas para encontrar as melhores estratégias de trabalhar o distanciamento social. Estamos correndo contra o tempo. Quanto mais longa a quarentena, mais difícil vai ser administrar as consequências do impacto da Covid-19 na saúde, na economia e no comportamento das pessoas. Leia mais.
(Foto: Rovena Rosa)