Os evangélicos e o governo atual

O apoio de lideranças políticas evangélicas e o apoio de eleitores que são fiéis evangélicos ao atual governo são dois fenômenos políticos que devem ser analisados de forma diferenciada e combinada ao mesmo tempo.
Os “Evangélicos“ não são nem um bloco religioso e muito menos um bloco político homogêneo e unificado. Em quase todos os partidos encontramos agentes políticos que são também afiliados a diferentes denominações evangélicas.
Todos sabem que entre os evangélicos estão aqueles que são chamados de históricos, pentecostais e neo-pentecostais. Também não é novidade que existe uma concorrência entre os líderes das diferentes denominações tanto pela conquista de fiéis como pela capacidade de influenciar as decisões governamentais e estatais, e também pela ocupação de posições de poder e a nomeação de representantes nas várias instâncias do aparelho de Estado.
Muitos agentes políticos filiados ou dirigentes de diferentes denominações evangélicas se transformaram em profissionais da política, especializados na disputa por posições de poder no Estado. Como nos ensinou Max Weber, eles vivem “para” a política, ao mesmo tempo em que vivem “da” política.
Para isso eles contam com os votos dos eleitores evangélicos, atualmente estimados em cerca de 20 % do eleitorado brasileiro (quase 30 milhões de almas). Mas a sua sobrevivência em cargos eletivos e de confiança depende mais da capacidade de cada um em saber jogar o jogo propriamente político e acumular capital político.
Esses agentes políticos devem combinar a capacidade de manter a confiança dos eleitores evangélicos e, por outro lado, participar de articulações, acordos e alianças com os demais agentes políticos que muitas vezes nem são de conhecimento dos seus eleitores.
Por que muitos políticos evangélicos apoiam o atual governo? A resposta mais genérica é que apoiar o governo vigente é uma estratégia para o exercício da influência sobre a gestão governamental e para a conquista de cargos e recursos que possibilitem a sua sobrevivência no jogo político e o crescimento de seu capital político.
Políticos evangélicos que apoiaram as gestões Lula e Dilma, apoiaram a derrubada da segunda para ficar com Temer e agora apoiam o atual governo. Mas não só os políticos evangélicos adotaram essa estratégia. Todos aqueles que não querem se afastar do poder, independentemente das ações governamentais ou da ideologia dos governantes, agem da mesma forma.
E agem assim porque são políticos profissionais, seus objetivos são viver “da” política e “para” a política e, para tanto, é melhor estar no poder do que fora dele.
Outra resposta deve ser buscada para entendermos porque muitos fieis evangélicos que não são políticos profissionais apoiam o atual governo.
O sentimento religioso de um ser humano não pode ser confundido com os interesses e ações das instituições religiosas em que participam ou das organizações políticas dirigidas por suas lideranças. Para ilustrar este raciocínio podemos recordar que um fiel católico não pode ser responsabilizado pela violência da Inquisição promovida pela Igreja católica no passado.
Um elemento importante da filiação a uma denominação religiosa é a identificação dos fieis com o seu pastor e o cumprimento das suas orientações. Para o fiel se sentir participando de uma comunidade religiosa, sendo reconhecido e amparado afetiva e materialmente pelos outros fieis como um irmão, ele precisa ser considerado fiel à palavra de Deus e às orientações do pastor. O problema é que ambas são polissêmicas.
Isso ajuda a explicar porque muitos fieis evangélicos antigos eleitores de Lula, na última eleição votaram em Bolsonaro não por convicção sobre as qualidades religiosa, política, administrativa e a ideologia de um ou de outro, mas para seguir as orientações da sua denominação religiosa e assim saciar a sua sede de identidade religiosa e a sua fome de cidadania.
As convicções e os interesses dos políticos profissionais e dos fieis evangélicos devem ser levados em consideração no processo de reconstrução da democracia e da própria sociedade brasileira. Mas devemos recordar que na tentativa de fazer valer as nossas convicções e interesses não podemos deixar de assumir a responsabilidade sobre as consequências das nossas ações, observando sempre, como indica Provérbios 15:3, que “Os olhos do SENHOR estão em toda parte: Ele observa atentamente os maus e os bons!”
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