Sai Weintraub, entra Mendonça

De Elio Gaspari, em O Globo:

Com a saída de Abraham Weintraub do Ministério da Educação, o doutor André Mendonça atropelou por fora e ultrapassou Ricardo Salles, tomando a dianteira para a condição de ministro com a maior carga folclórica.

Depois de avançar sobre o chargista Aroeira e o repórter Ricardo Noblat, o ministro da Justiça requisitou à Polícia Federal a abertura de um inquérito contra o colunista Hélio Schwartsman por ter escrito o artigo “Por que torço para que Bolsonaro morra”.

Mendonça invoca o artigo 26 da Lei de Segurança Nacional, que prevê a reclusão de um a quatro anos para quem “caluniar ou difamar o Presidente da República”.

Desejar a morte de alguém não é calúnia nem difamação. Se fosse, o deputado Jair Bolsonaro deveria ter sido enquadrado em 2015, quando desejou que Dilma Rousseff terminasse seu mandato “infartada ou com câncer, de qualquer maneira”.

Além disso, Bolsonaro tem uma relação amigável com a morte dos outros. Como ele mesmo já disse, “lamento, todo mundo morre”.

Em nome da segurança nacional encarceraram-se milhares de pessoas, entre elas o historiador Caio Prado Júnior e o escritor Graciliano Ramos. As iniciativas de Mendonça podem ter agradado a Bolsonaro, seu “profeta”, mas estão condenadas a se transformar em vexames jurídicos. Darão uma linda oportunidade profissional aos advogados que tomarem a defesa de Aroeira, Noblat e Schwartsman.

(Foto: Marcello Casal)