Por Vinicius Sassine, na revista Época:
Em 30 de abril, o presidente Jair Bolsonaro viajou a Porto Alegre para participar da cerimônia de troca da liderança do Comando Militar do Sul. Na ocasião, ele estendeu a mão para cumprimentar o comandante do Exército, Edson Leal Pujol, como se não houvesse pandemia, mas recebeu de volta o cotovelo, como mandam os protocolos de saúde. Pelo princípio da hierarquia, os demais generais seguiram o comandante, oferecendo o cotovelo ao presidente — o que o deixou visivelmente irritado.
Depois desse episódio, emissários do Planalto fizeram chegar ao comandante que ele poderia ser substituído antes do término de sua gestão. Bolsonaro queria alguém mais alinhado a seu governo no posto, insinuando que esse nome poderia ser o do ministro da Secretaria de Governo da Presidência, o general Luiz Ramos.
Até ingressar no Executivo, Ramos era comandante militar do Sudeste. Substituir um comandante no exercício do cargo é uma medida incomum e inédita. Desde o governo Lula, há uma regra implícita na sucessão das Forças Armadas: é alçado ao posto o oficial que cumpra os critérios de maior tempo de generalato e mais alta patente.
Romper essa tradição por razões de afinidade seria um golpe no princípio de hierarquia que norteia as Forças. Tal possibilidade fez o alto-comando enviar uma mensagem dura ao Planalto, também via interlocutores: de que não aceitaria uma troca tão atípica.
Ainda distante da proteção do centrão e em guerra com o Legislativo e o Judiciário, Bolsonaro decidiu ceder, evitando assim um confronto institucional com as Forças Armadas. Ramos, ainda na ativa, resolveu pedir para ir para a reserva. Leia mais.
(Foto: Marcos Corrêa/PR)