Insatisfação, ladrão de vida

Não parece lógico que a insatisfação apareça no período de menor oferta de coisas e oportunidades, e que a satisfação no período de abundância de ofertas e coisas?

Afinal, se a satisfação é ter e provar mais coisas e oportunidades, quando se tem oportunidade de ter mais e de provar mais, a satisfação deve ser total.
No entanto, o paradoxo vem justamente do fato de que a insatisfação surge exatamente no tempo em que a facilidade de provar e de ter mais coisas e oportunidades é maior. O que explica esta inversão?

Talvez a maneira como as pessoas reagem diante da escassez e diante da abundância, como a seguir se anota.

No período de escassez as pessoas contabilizam aquilo que têm conseguido e provado, deixando de atentar para aquilo que ainda não têm conseguido e nem provado.

Já no período de abundância, as pessoas contabilizam aquilo que ainda não têm conseguido e nem provado, deixando de olhar para aquilo que têm conquistado e já experimentado.

E como no período de abundância o número de coisas e de oportunidades não conquistadas e nem provadas é sempre maior do que o número de coisas adquiridas e experimentadas a pessoa, olhando de forma invertida, produz sua própria insatisfação.

A menos que os olhos saibam olhar e valorizar o que já foi conquistado e provado, a insatisfação será um gosto amargo na existência. Convenhamos, a insatisfação é um ladrão de vida.

A este texto de Lutero Pereira, teria pouco a acrescentar a não ser lembrar de desejar, que todos tenhamos vida e vida em abundância.

(Foto: João Cabral)