Um epitáfio para quem nos legou a paixão pela literatura

Como escrever um epitáfio para quem nos legou a paixão pela literatura?

Hoje faleceu Míriam Ramalho a minha professora de Língua Portuguesa e Literatura, na quarta e quinta séries do primeiro grau, de quando eu tinha entre nove e dez anos. Nos tempos do Colégio Santo Inácio em Maringá.

O prazer e a devoção pela literatura são uma dádiva da Professora Míriam para minha vida. A leitura é movida pela paixão e pelo prazer. Sem paixão, não há leitores. Sem prazer não há leitura.

Míriam fez-me apaixonar-me pela literatura de uma forma incondicional. (Já naquela idade, eu gastava o pouco dinheiro que economiza ou ganhava com pequenos serviços na aquisição de livros). Desde muito cedo, aprendi a cultivar e ampliar a minha biblioteca. Em cada livro outros caminhos para um novo autor, para obras de diferentes gêneros e linguagens literárias.

O professor Galdino Andrade, no Ensino Médio, com a sua erudição, deu-me os instrumentos para navegar com alguma precisão no oceano revolto das linguagens e gêneros da literatura.

Depois das incontáveis milhares de páginas literárias que li, com prazer e com paixão, sinto-me – em cada uma desta páginas – cada vez mais em débito com a Míriam e o Galdino.

Hoje quando olho para minha biblioteca com mais de oito mil volumes e mais da metade deles são de obras literárias dos todos os tempos e dos diversos gêneros; de autores laureados e de autores praticamente clandestinos nos compêndios de crítica literária; mas todas são de obras que dialogam conosco nos mais diferentes idiomas da literatura.

Borges disse certa vez que o paraíso deveria ser algo parecido com uma biblioteca. Eu penso como ele. Quando chegar o meu dia, eu quero ir para este paraíso. Lá, eu quero continuar a aprender sobre literatura com a Míriam e o Galdino.


(*) Marcos Cordiolli – Consultor e coach. Planejamento e produção executiva. Maringaense que voltou para casa. Ex-secretário de Curitiba