A incompetência trabalhou a favor da ciência e da razoabilidade. Os vexames da importação da vacina indiana nos ajudaram.
Vexame 1. Um presidente (do Brasil) escreve uma carta a outro presidente (da Índia) pedindo quase pelo-amor-de-Deus que lhe enviasse 2 milhões de doses da vacina Oxford até o dia 17 de janeiro de 2020. O indiano, certamente surpreso com tão inusitado pedido por quantidade tão pequena de doses da vacina contra a covid, feita por um presidente da República de um país tão populoso e importante como o Brasil, acena favoravelmente à solicitação, mas sem precisar datas. O “competente” ministro de relações exteriores, de extrema-direita, passa ao desesperado presidente e seu “competente” ministro da Saúde, general-logístico-do exército, que o pedido foi aceito. O general, às pressas e atabalhoadamente – verdadeiro “especialista e renomado oficial de logística que é’ – contrata um avião Boeing da Azul, certamente a elevadíssimo custo, manda o avião ao Recife para lá aguardar a confirmação da data de entrega da vacina indiana.
Vexame 2. A Índia diz que não pode entregar a vacina, pelo menos no curto prazo. Isso frustra o plano Bolsonaro/Pazuello de iniciar a vacinação no dia 20 de janeiro, com a vacina do laboratório de Oxford, esvaziando o calendário de Dória de começar a vacinação no dia 25 de janeiro, com a vacina CoronaVac. Completamente vazio, o avião volta a São Paulo.
Vexame 3. A reunião de hoje, dia 17 de janeiro, era para aprovar só a vacina de Oxford, adiando por mais alguns dias a aprovação da CoronaVac.
Vexame 4. Sem a vacina de Oxford, a Anvisa, do almirante Antônio Barra Torres, outro militar de Bolsonaro – aquele que carregava uma pasta e, sem usar máscara, participava dos atos antidemocráticos promovidos por seu chefe e sua turba, e também sem qualquer qualificação para o cargo de presidente de órgão tão importante – se vê obrigada a aprovar a vacina dos laboratórios Sinovac/Butantan. Essa vacina é aquela que Bolsonaro disse que não compraria, por ser de origem chinesa, aprovada pelo Butantã de São Paulo, ironizada por ele como de pouca eficácia. E la nave va!
Vexame 5. Como foi possível eleger um presidente desses, um capitão reformado do exército, cercado de oficiais incompetente das três corporações militares? Agora, só nos resta esperar que a mesma incompetência, que é de todo o governo, trabalhe a favor da boa política e nos livre desse presidente inepto, desumano, destruidor do meio ambiente e fomentador da desunião de nosso povo, inclusive facilitando a aquisição de armas para, no futuro breve, colocar verdadeiras “milícias” armadas contra as pessoas de bem e o Estado de Direito Democrático. Quem pode antecipar a saída de Bolsonaro é o Congresso, por meio de um Impeachment ou o Judiciário, pelos crimes por ele praticados contra a Constituição. Se isso não for possível, a solução é trabalharmos para que as mulheres e os homens de bem deste país – a grande maioria de nosso povo -, pelo voto, ponha fim a esse (des)governo autoritário e incompetente, que nos envergonha, aqui e em todo o mundo! Trump, seu ídolo político e muito mais poderoso, foi execrado e derrotado nas eleições. Hoje está a caminho do ostracismo político, mas continuará às voltas com o Congresso e os tribunais, a cujas instituições haverá de prestar contas pelos crimes praticados no exercício da presidência. É assim que as coisas devem acontecer nas democracias!
(Foto: Alena Shekhovtcova)