Ir para o céu, quase ninguém quer

O terrível coronavírus acentuou um medo presente em nossas vidas, ‘o de morrer’. Quase todos os dias temos notícias de parentes e amigos internados, com complicações, alguns gravemente, gerando especulações de toda ordem. Vibramos positivamente para a recuperação de todos, e particularmente por um amigo que fizemos, e que passa por situação complicada. Vai sair desta, amigo. Vai vencer a covid-19, pois tem muito o que fazer, por aqui. Sabemos que quer continuar vivendo e viverá. O instinto de preservação e atuação dos médicos do mundo físico e do invisível hão de fazê-lo recuperar. Neste momento não pode ler esta postagem e a completamos com um texto para reflexão dos demais leitores:

‘O instinto de conservação é bastante forte no ser humano. Naturalmente, ele visa preservar ao máximo a existência terrena. Entretanto, o advento da morte do corpo físico constitui uma certeza inexorável.

A ideia de morrer suscita um certo temor generalizado. Muitos evitam falar e mesmo pensar nesse tema. Mas a Espiritualidade Superior costuma estimular reflexões em torno do término da experiência física. Com frequência, toma-se a morte como um fenômeno renovador e redentor.

Há quem afirme que morrer é descansar. Em momentos de angústia, muitos dizem desejar a morte para parar de sofrer. É como se ela automaticamente transformasse a natureza humana. Nessa linha, ao morrer, todas as mesquinharias e vícios humanos cessariam.

As almas com alguma sorte iriam para o céu, viver de forma beatífica e ociosa. Ocorre que só se leva da vida a vida que se leva. Hábitos longamente cultivados compõem a essência do ser e o acompanham aonde quer que vá.

A morte não transforma homens em anjos ou demônios. Eles persistem qual se construíram ao longo do tempo. Alguém que não soube construir a própria paz não se pacificará apenas porque cessou a vitalidade de seu corpo de carne.

Almas torturadas de vícios seguem viciosas, enquanto não se depurarem. Para quem carrega um inferno no peito, trocar de endereço é irrelevante. Na carne ou fora dela, o Espírito é o mesmo. Somente suas sensações são mais fortes quando liberto dos grilhões da matéria. No plano espiritual, a vida moral é muito mais intensa. O júbilo pela consciência tranquila constitui algo maravilhoso.

Por outro lado, remorsos, ciúmes e desgostos íntimos tornam-se lancinantes. Os Espíritos realmente se dirigem a alguns locais, após o evento da morte. Eles se agrupam conforme seu merecimento e suas afinidades de gostos e tendências. Contudo, o relevante não é o local. Como o céu e o inferno residem no íntimo do ser, o primordial é pacificar-se e purificar-se. Para isso, viver de forma honrada constitui o único meio eficaz.

As tormentas da vida não são tragédias e nem castigos. Elas representam santas oportunidades de redenção. Nos longos embates, é possível lentamente modificar a própria visão de mundo. Por entre subidas e descidas, o homem pode compreender sua fragilidade e tornar-se generoso com o próximo. Ele pode entender a imensa bobagem que é viver ofendido e magoado e valorizar em excesso coisas transitórias.

Assim, não espere morrer para ir para o céu.Construa um céu em sua consciência e viva nele desde já.Trata-se do único caminho para a verdadeira felicidade.Pense nisso.

Este texto é do Momento, publicado em 28.1.2021, como título: Ir para céu, e nós complementamos com incluindo o ‘ quase ninguém quer’, pois acreditam que o céu só se alcança após a morte, e quase ninguém quer morrer. Mas há quem acredite que o paraíso pode ser alcançado aqui, mesmo antes da morte física e para isso não é preciso muito.

(Foto: Adam Kontor)