‘Câmara Federal vive uma espécie de surto pilântrico’
Por Josias de Souza, no UOL:
Articulador da mexida constitucional que torna a prisão em flagrante de congressistas praticamente impossível, o deputado Arthur Lira, presidente da Câmara, justificou assim a novidade: “Proteger o mandato é garantir que os parlamentares possam enfrentar interesses econômicos poderosos ou votar leis contra organizações criminosas perigosas, tendo a garantia de poder defender a sociedade e o povo sem sofrer retaliações.”
Como se vê, a primeira vítima da articulação de Lira é a semântica. Quando a Câmara é chefiada por um réu e esse personagem, protagonista de duas ações penais no Supremo, define uma emenda que institui a impunidade parlamentar como arma de guerra contra o poder econômico e o crime organizado, você sabe que está no centro de uma crise de significado ou numa roda de cínicos. Quando os deputados, hipotéticos defensores do povo, autorizam a tramitação legislativa do cinismo, como fizeram na noite desta quarta-feira por 304 votos a 154, você percebe que a crise é terminal. A Câmara vive uma espécie de surto pilântrico. O “significado” perdeu o significado. Leia mais.
A propósito, a chamada PEC da Impunidade é uma reação ao trabalho do STJ, como admitiu ontem o deputado federal Ricardo Barros (PP), líder do governo Bolsonaro na Câmara Federal: “É uma reação à forma como o Supremo atuou na prisão do deputado Daniel Silveira. Nós não podemos ter presos no Brasil por crime de opinião (…). Eu respeito o Supremo Tribunal Federal, acho que eles agiram ali, num momento ali, numa forma ordenada, corporativa, mas, friamente falando, não tem fundamento para a prisão, como ela foi feita.”
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