Cemitério dos Caboclos agora é patrimônio histórico

O município de Paiçandu tombou a área onde se localiza o Cemitério dos Caboclos. O tombamento deu-se através da lei municipal nº 2978, assinada em 5 de novembro do ano passado pelo então prefeito Tarcísio Marques dos Reis.

O Sítio Histórico Cemitério dos Caboclos está situado na área rural do município de Paiçandu, à beira do Km 157 da PR-323. Os primeiros relatos sobre a sua existência datam das décadas de 1930 e 1940.

A área tombada é de 282,55 m², sendo 116,15 m² de área de abrangência do cemitério (11,55 x 10,1 metros); e 166,40 m² da área externa correspondente a uma faixa de três metros no entorno do local.

Antes da colonização empreendida pela Companhia de Terras Norte do Paraná – CTNP, atual Companhia Melhoramentos Norte do Paraná – CMNP, a região já era habitada por Caboclos Sutis. Há registros e vestígios desse povo em todas as regiões do Paraná. No Norte do Estado os Sutis checaram na década de 1910 passando por Marilândia do Sul, Apucarana, Itambé, Barbosa Ferraz, Paiçandu, Água Boa e Cianorte, dentre outras localidades.

Há poucos estudos sobre o Povo Sutil. Possivelmente foi formado pelo encontro dos índios Guaranis provenientes das reduções jesuíticas e os descendentes de escravos vindos da região de Castro (PR)e de Assungui de Cima, antiga colônia de Curitiba.

Os Sutis possuíam um modo específico de viver e prosperar. Moravam isolados em casas de pau a pique cobertas com tábuas. Derrubavam pequenas áreas de mata e formavam lavouras para subsistência tais como milho, feijão, mandioca e abóbora. Criavam gado bovino e cavalos e engordavam porcos. A criação era rudimentar, adotando o sistema de “safras”, razão pela qual também eram conhecidos como safristas.

Faziam uso dos caminhos pelo meio da mata para vender os porcos e comprar querosene, sal e tecidos. Não faziam uso de rede e nem mesmo de esteiras – dormiam no chão.

Era um povo dócil, de baixa estatura e de fala mansa e pausada que vivia na mata em harmonia com a natureza. Tinham uma relação de uso e extração de recursos naturais e não de posse, por isso, eram comuns relatos de deslocamento de toda a comunidade para novas regiões, como nômades.

No início da colonização, Paiçandu ainda não tinha um cemitério público, razão pela qual muitos pioneiros fizeram o sepultamento de seus familiares no Cemitério dos Caboclos.

O avanço da colonização fez com que os Sutis fugissem para o interior da mata, desaparecendo rapidamente da região de Maringá. Várias famílias de sutis atravessaram o Rio Ivaí e rumaram em direção a Japurá, onde se juntaram aos povos da mata, seus parentes.

De lá, à medida que a colonização avançava, rumaram em direção a Douradina e Tuneiras do Oeste, sempre fugindo da presença do homem branco.

Segundo Ildeu Manso Vieira, em seu livro “Jacus & Picaretas – A história de uma Colonização”, a CMNP adquiriu uma gleba nas proximidades de Roncador, na cabeceira do Rio Corumbataí e fizeram nas matas de araucárias o assentamento dos sutis. Porém as condições climáticas desfavoráveis e a falta de assistência contribuíram para dizimar aquela população. Os últimos relatos sobre os Caboclos Sutis são do início da década de 1960.

(Foto: Donizete Oliveira)