Desinformação e insensibilidade (I)
Os fatos e os acontecimentos desmentem Bolsonaro e o condenam como sendo o responsável pelo agravamento da crise sanitária e econômica que paralisa o país. As informações sobre a gravidade do Sars Cov-2, surgido em Wuan, na China, e que mais tarde veio a ser denominado de covid-19, vieram a público em fevereiro de 2020.
A primeira morte no Brasil, em consequência de infecção pela covid-19, ocorreu em 12 de março de 2020. Já na segunda quinzena de março desse ano, o ministro da Saúde, à época, Luiz Henrique Mandetta, recomendou uma rígida quarentena aos maiores de 60 anos e àqueles com alguma comorbidade, compreendidos no grupo de risco, ou seja, os mais suscetíveis de infecção pelo até então desconhecido e letal vírus. Enquanto o ministro da Saúde chamava a atenção para a gravidade da situação e dos cuidados pessoais a serem tomados no convívio familiar, social e profissional, passando a merecer a confiança da imprensa e dos brasileiros, Bolsonaro, em um misto de ciúmes, de negacionismo e de ignorância, boicotava todas as medidas de prevenção e combate à pandemia que, a essa altura, já era uma realidade.
O presidente desdenhava das orientações de seu ministro e pedia a todos que ignorassem o distanciamento social e prosseguissem tocando a vida com normalidade e sem sobressaltos, pois, em seu entender, o tal vírus provocava, no máximo, uma “gripezinha”, que iria acometer uns poucos e, logo, tudo haveria de se normalizar. Ainda segundo Bolsonaro, se as medidas aconselhadas pela área da saúde viessem a ser adotadas a economia do país quebrava. Essa afirmação é desmentida por recente Relatório da Organização para o Comércio e o Desenvolvimento Econômico – OCDE.
Os países que de início adotaram medidas preventivas duras, como o isolamento social e a testagem em massa e, um pouco depois, a vacinação generalizada, evitaram a deterioração econômica. Assim procederam, por exemplo, Noruega, Coréia do Sul e China, para citar apenas estes, que ostentam hoje taxas de morte de 11.4, 3.1 e 0.4%, por 100 mil habitantes (o Brasil tem 118.7 mortes), em 2020, e obtiveram um crescimento da produção industrial de 7.3, 0.3 e 2.8%, respectivamente. (Folha de São Paulo, de 28/02)
O vírus se espalhou pelo mundo, com efeitos imediatos e diretos no Brasil. Bolsonaro continuou a contradizer e a enfraquecer Mandetta, culminando por demiti-lo. Em seu lugar assumiu o médico Nelson Teich, que ficou no cargo por apenas e exatos 28 dias. Saiu por discordar de Bolsonaro ao negar-se a incluir, em protocolo do ministério, a hidroxicloroquina como remédio para tratamento precoce da covid-19. A essa altura, a pandemia se espalhara pelo país e fazia vítimas por toda parte, especialmente em Manaus. Foi nessas circunstâncias que Eduardo Pazuello tornou-se ministro da Saúde. General de Exército na ativa, dócil e subserviente, prontamente atendeu à ordem unida do Capitão, incluindo a cloroquina no tratamento precoce, passando a não mais recomendar o distanciamento social, a negligenciar e, até mesmo, a recusar-se a comprar as vacinas, que a essa altura já tinham sido descobertas e testadas como eficazes.
Assim, com o ministério em mãos de um capitão e de um general, ambos apedeutas em saúde, negacionistas e indiferentes à pandemia, estavam dadas as condições para a tragédia sanitária que se abateria sobre o Brasil, com todas as nefastas consequências que hoje vivenciamos. Teria sido ainda pior (se é que isso fosse possível!), não tivesse o STF autorizado a Estados e Municípios suprirem a omissão do governo federal no combate à covid-19. E essa omissão se estendeu à área econômica, trazendo desalento a empresários e trabalhadores.
(Foto: Isac Nóbrega/PR)