Calor da solidariedade veio do distante e frio País de Gales

Nove meses depois da minha libertação da Penitenciária do Ahú, e dois anos antes da Anistia aos prisioneiros da Ditadura Militar brasileira, recebi uma carta do Grupo de Amnistia da cidade de Aberystwyth, no País de Gales, prestando solidariedade e oferecendo para minha pessoa ajuda financeira. Surpreso, pois não esperava nenhum tipo de ação a nível internacional em relação a minha pessoa, agradeci sensibilizado e não aceitei os recursos financeiros generosamente ofertados.
Por que não aceitei?
Porque estava recebendo solidariedade aqui no Brasil. Em Maringá, onde residia na época, nada faltava a meus familiares graças a ajuda que pessoas como o respeitado e taciturno doutor Helenton Borba Cortes, meu professor da matéria de Medicina Legal na Universidade Estadual de Maringá (UEM), enviava mensalmente, em total anonimato, compras que abasteciam com fartura a dispensa da minha casa na Vila Sete. Ao saber, anos depois, da sua solidariedade por amigos comuns, ao agradecer o mestre, ele respondeu sorrindo: “Laércio, esqueça, e trate de não ser preso novamente”.
Vejam vocês, um filho de tradicional família burguesa paranaense, os Borba Cortes, ajudando um revolucionário admirador e seguidor de Luiz Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança.
Em relação à minha defesa no processo de Segurança Nacional acionado pela Auditoria da 5ª Região Militar, o deputado federal Euclides Scalco, presidente do MDB do Paraná além de me visitar no Presídio do Ahu me levando solidariedade, contratou para me defender os brilhantes advogados Antonio Acir Breda, que foi o Secretário da Justiça no governo Alvaro Dias, e o Otto Luiz Sponholz, que foi presidente do Tribunal de Justiça do Paraná.
Em seguida, leiam com atenção o texto da carta enviada para mim do País de Gales:
(*) Publicado originalmente em janeiro de 2018.