Por Josias de Souza, no UOL:
Dois espetáculos não cabem ao mesmo tempo num só palco. Ou num único país. Dividido entre um e outro, o público não dá atenção devida a nenhum dos dois. Estava aí em cartaz a flagelo sanitário que se aproxima da marca dos 400 mil mortos sem vacinas. Ao lavar a ficha de Lula, o Supremo gravou no cartaz um segundo número embaraçoso: 2022 com polarização.
“Se for necessário ser candidato em 2022 para ganhar as eleições de um fascista que se chama Bolsonaro, eu serei candidato”, declarou Lula ao canal argentino C5N, pouco depois do término da sessão em que o plenário da Suprema Corte confirmou a anulação das sentenças que a Lava Jato gravara na sua ficha.
E Bolsonaro, na tradicional live das noites de quinta-feira: “Vamos ter uma eleição pela frente, o Lula vai ser candidato. Tira eu de candidato. Quem seria o outro que iria com o Lula pro segundo turno? Só fazer um raciocínio que vão entender o futuro de cada um de vocês.” Ganha uma dose de vacina quem conseguiu entender.
No momento, o brasileiro precisa de vacinas, sedativos para intubação, comida e concórdia. A ultrapolarização prematura oferece apenas raiva e salvacionismo. Com um grande passado pela frente, Lula confunde amnésia com consciência limpa. À frente de uma administração que não seria perfeitamente entendida nem no século passado, Bolsonaro fez surgir instila na alma do brasileiro um sentimento novo: a esperança do caos. Leia mais.