Só Jesus, mais uma vírgula

Indiscutivelmente que a língua portuguesa é umas das difíceis de ser falada, escrita e lida corretamente, especialmente considerando o nível da educação no Brasil, e a pouca valorização dos professores.

Boa parte dos estudantes do ensino médio, e até os de cursos superiores, tem dificuldades para correta colocação de um pequeno sinal de pontuação, a vírgula, e uma vírgula altera completamente o sentido de uma frase, como por exemplo: ‘Só Jesus não salva’ e com uma vírgula: Só Jesus, não salva.

Sem a vírgula a frase parece uma blasfêmia, pois pode ser entendida que Jesus é o único que não salva, bem ao contrário do que preconizam as religiões cristãs, que ensinam que Jesus é o único salvador. Já na segunda frase, que prefiro e aprendi com a Doutrina Espírita, a informação é que não basta Jesus para a salvação, é preciso que cada um faça a sua parte.
A propósito, deixando de lado o português, reflitamos sobre a salvação, especialmente no momento em que tantos entes queridos estão nos deixando, pelo fenômeno chamado de morte. O lhes acontece? Todos estão ‘salvos’? Para onde iremos, após o desenlace do corpo? Depende da religião e da crença?

Jesus Cristo, segundo alguma doutrinas, seria o cordeiro de Deus, que veio para tirar os pecados do mundo, e seu sacrifício, seu sangue derramado, após o cruel assassinato, lavou ou levou os pecados daqueles que o aceitam como salvador.
E de onde vem a crença do cordeiro salvador? Haroldo Dutra nos diz que o entendimento surgiu com a páscoa dos judeus, antes de Cristo, naturalmente. Havia um costume no judaísmo de marcar as casas com sangue de um cordeiro, para se poupar da morte o primogêntico. Uma semana antes da páscoa, um cordeiro era trazido para a casa, convivia com as crianças, ficava sendo parte da família e no entardecer de sexta-feira era sacrificado, para que seu sangue fosse usado na marcação da casa e o almoço de páscoa.

Jesus conviveu com seus discípulos por três anos, criou o vínculo de uma família e na quinta-feira anterior à páscoa, anunciou-lhes que partiria, que seria traído, entregue e voltaria para Mundo Espiritual, recomendando-lhes que, apesar da tristeza, comemorassem a páscoa. Assim acreditou-se, a partir daí, que Jesus era o salvador, como um cordeiro seria, e bastaria seu sangue e aceitação para se alcançar a salvação.

Para o Espiritismo, Jesus salva através das obras individuais. Ele é o modelo de comportamento ideal, é a alma mais elevada e pura que já transitou por essas paragens, é o detentor da mensagem salvadora e qualquer um, ainda que não o conheça, pode praticar o que ensinou, desse modo será salvo, pois terá modificado sua má índole, corrigido suas imperfeições, praticado o amor a Deus enquanto ama a si e ao próximo. A partir das obras, ninguém se perderá e essa verdade é bem mais compatível com o infinito amor de Deus e com a assertiva cristã em João 18:9 de que “nenhuma de minhas ovelhas se perderá“.

Jesus salva quando abandonamos o comodismo, quando deixamos para trás o que retém a alma no limbo da ambição, do poder, dos prazeres efêmeros. Salva quando conseguimos realizar passo a passo, a caridade que incentivou na Parábola do Bom Samaritano, usada como modelo de comportamento quando questionado em Lucas 10:25-37 “Mestre, que farei para herdar a vida eterna?“. Sua resposta foi “amar o próximo”, assim como a lei ensinava, e quem lhe questiona pergunta “quem é meu próximo?”. Diz Jesus, com a parábola, que todos o são e todos podem ser instrumentos do nosso amor.

Voltado à frase: ‘Só Jesus, não salva’, que sem a vírgula significaria contrariar a crença da salvação, pelo Mestre de Nazaré, concluímos que Só Jesus não é suficiente para nos salvar, se não fizermos a nossa parte, aplicando os seus ensinamentos em nossas vidas.

E para finalizar, o conforto a todos que ‘estão sendo forçados’ a deixar a vida física, bem como seus entes queridos: Todos serão salvos, mais cedo ou mais tarde. Uns, dependendo a vida que levaram na existência que se finda, podem sofrer por um tempo, no local definido por Kardec, quando da codificação do Espiritismo, como de umbral, até serem resgatados, quando se arrependerem e pedirem socorro( “nenhuma das minhas ovelhas se perderá’’). Todos teremos tantas oportunidades, quantas forem necessária até atingirmos a ‘ salvação’, definitiva, pelas vias da existências sucessivas ( reencarnações).

(Foto: Alem Sánchez)