General abandona Brasil de Alice e tenta arrastar Bolsonaro para país real

De Josias de Souza, no UOL:

O general Luiz Eduardo Ramos não mudou apenas da Secretaria de Governo para a Casa Civil da Presidência. Há um ano, vivendo entre dois mundos —o País das Maravilhas e o País do Espelho—, o general pedia aos jornalistas um noticiário de Alice, livre de cadáveres. Sem alarde, ingressou no Brasil real pela porta dos fundos, vacinando-se às escondidas. “Porra, eu quero viver!” Tenta agora arrastar Bolsonaro para a realidade: “A vida dele corre risco”.

Em abril de 2020, quando ainda cuidava da articulação política do Planalto, o general Ramos estava abespinhado com a imprensa. Achava que o noticiário trazia “uma cobertura maciça dos fatos negativos.” Incomodava-se especialmente com o excesso de cadáveres e de esquifes. “No jornal da manhã, é caixão, é corpo. Na hora do almoço, é caixão novamente, é corpo. No jornal da noite, é caixão e é corpo.”

Nessa ocasião, os mortos por Covid eram contados na casa dos 3 mil. E o general rogava aos meios de comunicação que pendurassem fatos positivos nas manchetes. Coisa digna de Lewis Carroll e do País das Maravilhas criado por ele para sua personagem Alice. Nos telejornais do ministro Ramos, haveria um vácuo no qual a realidade deixaria de existir. Restaria apenas a fantasia.

No universo criativo de Carroll, Alice, depois de visitar o País das Maravilhas, decidiu atravessar o espelho de sua casa. Entrou no País do Espelho, onde enxergou tudo ao contrário. Era nesse país que vivia o general Ramos. Atrás do espelho do Planalto, havia um presidente que chamava pandemia de “gripezinha” e fechava os olhos para os mortos: “Eu não sou coveiro!”. Leia mais.