Quando Jesus disse: psiu

A Bíblia registra uma situação que aponta para um quadro bastante constrangedor para uma mulher.
Surpreendida em adultério (Jo 8.1), dominada e sem poder escapar das garras dos seus aprisionadores, foi levada aos escribas e fariseus. Por que será que foi levada aos religiosos? Teriam sido eles os responsáveis por armar o flagrante? Não sabemos ao certo. Com a mulher “em mãos”, os religiosos a levam a presença de Jesus, e a colocam “de pé” no meio deles (Jo 8.3).
Dá para imaginar a vergonha daquela mulher, no meio do círculo de fogo, não conseguindo evitar os olhares escarnecedores dos seus algozes, que a condenam. O que querem os religiosos? Ajudar a mulher? Não, querem usá-la para acusar Jesus de algum comportamento reprovável.
Para conseguirem seu objetivo, relatam o fato do adultério e perguntaram a Jesus: “Na lei, nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois que dizes?” (Jo 8.5). Jesus respondeu: se querem cumprir a lei, iniciem o apedrejamento, quem estiver sem pecado algum.
Neste momento, como é próprio de quem está na iminência de ser agredido, a mulher envolve seu rosto com os próprios braços e abaixa a cabeça. Espera um pouco, mais um pouco e nada. O tempo passa e nenhuma pedra a atinge. Surpresa, abre os olhos por entre os braços que ainda protegem seu rosto e o susto. Não tem mais ninguém ali.
A roda de acusadores foi desfeita e escribas e fariseus foram embora. Mas ela não está totalmente sozinha, Jesus ficou . Como não existe ninguém a sua volta ela poderia fugir, mas não teve pernas para correr, depois de tamanha apreensão. Neste momento pensa: “Agora estou sozinha, cara a cara com Jesus, tudo pode ficar pior.” Afinal, ela tinha ouvido falar que Jesus era Deus encarnado, e como Deus odeia pecado, Jesus deveria odiá-la. E odiando-a, a apedrejaria sem só. E continua suas conjecturas: Antes de me apedrejar ele vai fazer um sermão bem duro, daqueles que fazem a alma se contorcer em dores por causa da culpa que faz sentir.
Mas aí um susto ainda maior, susto que faz bem. Nem sermão, nem pedrada vêm de Jesus, pelo contrário, perdão. Jesus disse: “eu não te condeno” (Jo 10.11). A mulher abaixa os braços, deixa seu rosto totalmente à mostra e olha fixamente para o Salvador, ainda incrédula. Nem dor no corpo, pois não houve pedrada, nem dor na alma, pois sermão acusatório não lhe foi pregado.
Aliviada, já ia deixando o local quando ouviu um “psiu”. Olhou para trás e era Jesus lhe chamando a atenção: “Olhe, vai e não peques mais” (Jo 10.11). Mas se pecar, volte. Volte a mim sem ser trazida por nenhum acusador.” A mulher, em lágrimas, tomou seu caminho e foi embora pensando que a graça de Deus com os pecadores é algo incompreensível.
(*) Lutero Paiva Pereira é advogado em Maringá
*/ ?>
