Empresário terá de explicar contrato de vacina mais cara

Trechos de reportagem de Paulo Cappelli, Natália Portinari e Júlia Lindner em O Globo:

A CPI da Covid deve aprovar hoje a convocação do empresário Francisco Maximiano para prestar depoimento. Ele é dono da Precisa, farmacêutica que representa no Brasil a companhia indiana Bharat Biotech, fabricante da vacina Covaxin — o imunizante mais caro adquirido pelo governo brasileiro. Os integrantes da comissão também votarão requerimentos de quebra de sigilo bancário e fiscal dos sócios de empresas suspeitas de favorecimento pelo governo federal durante a pandemia. Uma delas é a Precisa.

Segundo o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), serão votadas as quebras do sigilo telefônico, telemático, fiscal e bancário dos sócios da Precisa, suspeita de favorecimento no contrato para a venda da Covaxin.

Um dos sócios da empresa, Francisco Maximiano esteve à frente de uma delegação recebida na Embaixada do Brasil em Nova Déli em 7 de janeiro. Um dia depois da reunião, o presidente Jair Bolsonaro informou por carta ao primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que a Covaxin havia sido uma das vacinas “escolhidas”, junto com a AstraZeneca. Naquela data, o governo já havia recebido cinco ofertas da Pfizer e quatro do Instituto Butantan.

Além de ter que explicar à CPI o suposto favorecimento na venda da vacina para a União, Maximiano é citado em um processo judicial referente a outra empresa da qual é sócio, a Global Gestão em Saúde, também referente a um contrato com a União. O Ministério Público Federal aponta que, em novembro de 2017, Maximiano enviou e-mails ao Ministério da Saúde solicitando que liberasse pagamento antecipado de R$ 19 milhões à Global por um contrato referente a três medicamentos: Myozyme, Fabrazyme e Aldurazyme. O contato foi feito com Victor Laud, que atuava na Coordenação de Execução Orçamentária e Financeira da pasta. Laud se recusou a efetuar o pagamento e, em depoimento ao MPF, afirmou que, na mesma época em que recebeu os e-mails de Maximiano, sofreu pressão do então ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP-PR), hoje líder do governo de Jair Bolsonaro na Câmara.

O deputado Ricardo Barros, também por nota, afirmou que “lamenta que o MPF tenha escolhido o lado errado da luta no SUS”. Ele afirma que a acusação “se volta contra a política de enfrentamento aos monopólios do setor farmacêutico”. Leia mais.