Como treinar um líder
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Na história de treinamentos do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, eles passam por um processo que treina e seleciona dez semanas na Escola de Candidatos a Oficial no Estado da Virgínia.
Esse treinamento consiste numa série de testes e vinte etapas com pequenos obstáculos, ou seja, para ser mais específico, resolução de problemas para superá-los.
Eles trabalham em grupos de quatro e enfrentam desafios como por exemplo atravessar uma lagoa com pessoas e material em certo período de tempo usando apenas três pranchas de tamanhos diferentes.
Esse exercício tem como objetivo avaliar as qualidades da liderança dos futuros oficiais e leva em conta se os candidatos seguem um líder ou lidam bem com a adversidade e se são capazes de compreender rápido a situação e ver quais a prioridades e delegação de tarefas.
O espantoso é que dentre todas as qualidades que são avaliadas nesses futuros líderes, a APTIDÃO para superar o obstáculo não é uma delas. Não é nem necessário superar o obstáculo.
Em outras palavras, saber jogar o jogo da formação de liderança implica mais em comportamentos do que em resultados.
Até porque sabemos que bons líderes às vezes fracassam numa missão e maus líderes às vezes têm sucesso. Não é a capacidade de ter sucesso que faz de alguém um líder.
A base de um bom líder está centrada em qualidades como honestidade, integridade, coragem, resiliência, perseverança, critérios no julgamento e capacidade de tomar decisões.
Os fuzileiros aprenderam após anos de tentativa e erro, estudando confiança e cooperação, o que, no decorrer do tempo, aumenta a probabilidade de que uma equipe tenha êxito com mais frequência do que fracasso.
Não à toa, em meus mais de vinte anos como treinador, tenho colocado muito claro as diferenças entre educação e treinamento. São coisas parecidas, mas não são iguais.
Educação é algo que vem de berço. Aí entram caráter, moral, princípios, costumes. Já o treinamento é o princípio da repetição. Faz tantas vezes que fica bom naquilo que faz, gosta do que faz e até aprende a gostar de fazer aquilo que não gostava.
No treinamento de um líder se avalia quando a vontade – leia-se motivação, é maior ou menor do que os recursos, ou se a inclinação para confiança é maior do que para desempenho, e isso, numa avaliação séria, mostra o aumento da probabilidade de que uma equipe desempenhe, com o tempo, cada vez mais em níveis mais altos.
Conheço pessoas que ocupam os cargos mais altos de uma empresa e que nem por isso são bons líderes. Alguns são o que chamo de “líderes de crachá” e por alguma razão foram colocados lá. Mas com o tempo, isso causa um estrago sem tamanho. Com o tempo, isso ficará evidente quando aparecer uma situação problema de nível estratégico.
A qualidade das pessoas inicia um grande círculo de melhorias e sua influência nos resultados é vital para que o negócio viva a experiência única de poder ser transformado em sucesso. Mas isso, esse círculo, depende do “coração” de seu líder e de sua equipe, algo de comprometimento conjunto que leve a dias melhores sempre. Essa é a eterna busca.
Um ambiente criativo e saudável que constrói o sucesso só pode existir com um verdadeiro sentido de equipe, com pessoas fazendo o que gostam ou aprendendo a gostar do que não gostavam, com propósito, e se orgulhando disso.
A principal definição de um líder, e isso deve ser ensinado a quem está nesta formação, é a de que o líder deve ser um motivador de pessoas e um formador de equipe. Se conseguir isso, o sucesso é garantido. Isso garante muitas vitórias.
Líderes que aprendem isso, fazem a qualidade acontecer na vida das pessoas que lideram, pois sabem que isso depende muito mais de sentimento do que de pensamento.
E esses resultados vem na forma de aumento de vendas, de descobrimento de um sistema novo que leva a uma grande produtividade ou numa grande satisfação e encantamento tanto de clientes quanto de colaboradores.
Voltando ao início desta “conversa”, os fuzileiros não estão interessados se seus líderes irão ou não atravessar o rio ou a lagoa ou qualquer outro obstáculo. Estão interessados em treinar líderes para que sejam capazes de criar um ambiente no qual cada membro da equipe confie nele e se sinta confiante, de modo que possam trabalhar juntos para atravessar qualquer obstáculo.
Um clima de confiança ajuda a assegurar que terão sucesso com mais frequência. Se você buscar na história recente da aviação, verá que até aviões caíram por falha humana na qual o comandante autocrata praticamente anulou as ações do co-piloto novato e este ao invés de “trabalhar junto” se anulou e ficou com medo de apontar os erros que estavam acontecendo. E o avião caiu. Isso foi constatado pela perícia e no diagnóstico de relacionamento daquele comandante em treinamentos anteriores.
Treinar líderes é importante? É mais que importante, não somente para a sobrevivência de um negócio, de uma instituição como também para melhoria da qualidade de vida das pessoas que estão por perto. Vamos treinar.
(*) Gilclér Regina é palestrante de sucesso, escritor com vários livros, CDs e DVDs que já venderam milhões de cópias e exemplares no Brasil, América, Ásia e Europa
(Foto: Vlada Karpovich)