Prisioneiro do Centrão, Bolsonaro sofre abusos, mas tira vantagens
De Ricardo Noblat, no site Metrópoles:
Se não sabia, se nada tinha a ver com isso, por que o presidente Jair Bolsonaro não acionou a Polícia Federal, como prometeu que faria, para apurar a denúncia dos irmãos Miranda sobre o processo de compra repleto de irregularidades da vacina indiana Covaxin?
Se não sabia, se nada tinha a ver com o negócio de R$ 1,6 bilhão, por que respondeu assim aos irmãos Miranda: “Vocês sabem quem que é, né? Puta merda, se mexer vai ferrar…”. E, de pronto, citou quem era: Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara.
Se no encontro com os irmãos Miranda, em 20 de março último, Bolsonaro foi capaz de avaliar de imediato o tamanho da encrenca que teria pela frente, por que menos de dois meses depois nomeou a mulher de Barros conselheira de administração da usina Itaipu?
Não teria sido o caso de afastar-se de Barros, o homem-bomba, ao invés de aproximar-se mais e de deixá-lo explodir no seu colo? Ou então de ter aconselhado Barros a largar a função de líder pelo menos enquanto estivesse sendo investigado pela CPI da Covid? (…)
Barros só renunciará à função de líder do governo na Câmara se quiser, se lhe for conveniente, porque Bolsonaro é refém do que Barros sabe, e ele sabe muito, e do Centrão, grupo do qual o partido de Barros faz parte e simplesmente é o mais robusto.
No passado, Bolsonaro foi soldado raso de meia dúzia dos partidos que hoje o têm como prisioneiro. Fala grosso para o público externo, mia para seus algozes. É abusado por eles, mas também extrai vantagens sonantes disso. É a sua turma, afinal de contas. Aqui, na íntegra.
(Foto: Alan Santos/PR)