‘Se eu morrer, denunciem’: a mulher que faleceu à espera de remédio no ministério de Ricardo Barros, alvo de CPI

De Mariana Alvim, em O Globo:

Na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, o deputado federal Luis Claudio Miranda (DEM-DF) afirmou que, ao avisar o presidente Jair Bolsonaro sobre a suspeita de irregularidades na venda da vacina indiana Covaxin pela Precisa Medicamentos ao Ministério da Saúde, o mandatário disse que a denúncia parecia ser um “rolo” do deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara e ministro da Saúde entre 2016 e 2018.

Irmão do deputado Luis Claudio Miranda e servidor do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda também prestou depoimento à CPI no final de junho, onde afirmou que o suposto esquema na venda da Covaxin se refletiu, no ministério, em uma “pressão atípica e excessiva” pela compra do imunizante — e também pelo pagamento antecipado.

Assistindo à TV na sua casa em Ouro Branco (MG), a ex-policial militar Ruth Helena Mendes, 52 anos, diz que as notícias envolvendo Barros, hoje parlamentar, soaram para ela como a repetição de uma história de quando este foi ministro da Saúde, durante a presidência de Michel Temer (MDB).

Daquele tempo, o político do PP carrega uma ação civil pública por improbidade administrativa, aberta no final de 2018 e atualmente tramitando na primeira instância da Justiça Federal de Brasília. Segundo acusação do Ministério Público Federal (MPF) no Distrito Federal, Barros e quatro servidores em sua gestão “aproveitaram-se das posições que ocupavam para cometer atos ilícitos em benefício de terceiros” — as empresas Global e Oncolabor/Tuttopharma —, causando “prejuízos ao erário” e “a morte de pelo menos 14 pacientes”.

Uma dessas vítimas foi Margareth Maria Mendes, irmã de Ruth, que ficou meses sem o medicamento Soliris para tratar a doença rara que tinha, a hemoglobinúria paroxística noturna (HPN), e morreu em 26 de fevereiro de 2018.

A ação do MPF denuncia improbidade na venda do Soliris pela Oncolabor/Tuttopharma; e também dos medicamentos Aldurazyme, Fabrazyme, Myozyme e Elaprase, comprados da Global, em contrato fechado pelo ministério da Saúde.

Ouvidos na investigação da procuradoria, funcionários do ministério relataram pressão de Barros, enquanto ministro, para liberar o pagamento antecipado à empresa Global. Logo que o contrato com a empresa foi firmado, concorrentes escreveram formalmente ao Ministério da Saúde informando que a Global não tinha aval das fabricantes nem autorização da Anvisa para importar os remédios. A partir daí, foram meses sem que os remédios fossem efetivamente entregues pela empresa, levando ao desabastecimento, adoecimento e morte de pacientes.

“A sensação é que a história se repete, né? Ver essas notícias (denúncias de envolvimento de Barros em irregularidades na compra da Covaxin) traz um sentimento de impotência e indignação, uma revolta tamanha da nossa família toda”, diz Ruth, para quem a ação aberta pelo MPF caminha na Justiça Federal de Brasília com “lentidão”. Leia mais.