Parece que a velha tática não deu certo

Líder do governo com companheiros ao longo de sua carreira política

Quem acompanha a trajetória do deputado federal Ricardo Barros (PP) sabe que em Brasília ele utiliza o confronto para depois de se tornar aliado e se aproveitar do que o poder oferece.

Foi assim com Fernando Henrique Cardoso. Malufista de carteirinha até então, Barros foi um dos dois pefelistas que se posicionaram contra a reeleição, proposta da qual FHC se arrepende até hoje de ter feito. Mesmo tendo criticado e votado contra a reeleição, tornou-se pela primeira vez vice-líder de um governo na Câmara Federal no segundo mandato de FHC. Por alguns dias – de uma sexta-feira até uma segunda-feira – ele chegou a ser nomeado líder. A Associação Comercial e Empresarial de Maringá, onde sua influência impera até hoje, espalhou cartazes pela cidade parabenizando o “novo líder”. O orgulho durou pouco, e até hoje não se sabe o motivo que levou o então presidente a revogar a nomeação de Barros. Mesmo assim, ficou de 1999 a 2002 na condição de vice-líder.

Barros notabilizou-se por fazer o que a maioria de seus colegas não fazia, daí o primeiro apelido de office-boy de luxo. Eram dadas a ele sempre a defesa das tarefas mais impopulares do governo junto à Câmara – casos do aumento do fundo partidário e o fim do Exame de Ordem da OAB – e ele nunca recusou. No primeiro governo Lula ele chegou a votar favoravelmente em pautas do governo, mas depois tornou-se oposição, sendo um dos coordenadores da campanha de Severino Cavalcanti, cuja eleição, ao derrotar o candidato oficial, foi um recado ao governo. Ele e seu irmão Silvio Barros II (PP), então prefeito de Maringá, lamentaram a reeleição de Lula, pois criticavam aberta e fortemente a política social do presidente petista. A oposição não passou quinto mês de 2007, primeiro ano da segunda gestão petista, quando Barros tornou-se vice-líder de Lula. Com Dilma Rousseff ele continuou na vice-liderança até o dia da votação do impeachment, em 2016 – quando votou a favor de tirá-la do governo. Quando servia ao governo Dilma, chegou a ser chamado de chantagista por… Jair Bolsonaro, que foi seu companheiro de partido por vários anos.

Na gestão Michel Temer, num acordão por suposta governabilidade com o centrão que o levou ao Ministério da Saúde, indicou muitos aliados para cargos federais. Foi uma boa época, já que sua mulher, Cida Borghetti, na mesma época assumiu o governo para que Beto Richa, entre uma prisão e outra, pudesse perder uma eleição tida como ganha ao Senado. Aliás, na primeira gestão de Richa ele foi secretário de Indústria e Comércio e só emplacou Cida na vice, no segundo governo, porque lançou seu próprio irmão mais novo candidato pelo PHS; depois da convenção, negociada a vice, Silvio Barros II foi obrigado pelo irmão mais velho a desistir. Era de novo a política do confronto, da faca no pescoço.

Quando Bolsonaro assumiu, na condição de ex-colega de bancada, Barros tentou emplacar aliados no governo federal, viu que não deu certo e voltou ao velho discurso. Foi severo crítico do presidente, tendo lembrado que “é deputado que tira presidente”. Bolsonaro ficou com medo e Barros ganhou a liderança do governo. Conseguiu até que o presidente arranjasse uma boquinha para sua mulher, Cida Borghetti, no cobiçado conselho da Itaipu Binacional.

No dia do depoimento à CPI da Pandemia Barros resolveu continuar com a velha tática, e não deixou a arrogância do lado de fora da sala – levou-a junto para a cadeira do depoente. O resultado parece não ter sido bom desta vez para o ‘deputado gelatina’, ‘o camaleão’, ‘o leitão vesgo’ como seus pares lhe chamam – a tática. que funcionava com ex-governadores e ex-presidentes, não deu certo com os senadores.