Não estamos em 1964

De Leonardo Lellis, na Veja que circula neste final de semana:

Em uma retórica própria de líderes de seitas fanáticas, Bolsonaro anteviu três caminhos para o seu futuro: a prisão, a morte ou a vitória. Assim, dentro do peculiar imaginário do capitão, fica descartada a hipótese de uma derrota nas urnas em 2022. Como já afirmou mais de uma vez, o presidente acredita que só não será reeleito se houver um roubo nas urnas — daí a sua insistência em desacreditar o tempo inteiro o sistema eletrônico de apuração. O nível de irresponsabilidade é maior ainda quando insinua que poderá ocorrer um levante no caso de um revés no seu plano de recondução ao Palácio do Planalto. Dessa forma, em pleno século XXI, por incrível que pareça, entrou na pauta de assuntos nacionais a hipótese de uma ruptura democrática. Para pôr mais fogo ainda na história, Bolsonaro aposta todas as suas fichas nas manifestações de simpatizantes pró-governo no 7 de Setembro. Acredita que, assim, sua fantasia autoritária terá o devido respaldo popular. “Nunca uma outra oportunidade foi tão importante para os brasileiros”, afirmou. Para desgosto da claque radical, que incentiva o presidente a tentar alguma maluquice, e para alivio daqueles comprometidos com a democracia, felizmente temos hoje um cenário muito distinto daquele que permitiu a instalação de um regime autoritário em 1964.

Aquele Brasil não existe mais, tampouco Bolsonaro conta com uma rede de apoios que sustentou o golpe há quase seis décadas, a começar pelo respaldo internacional. Na íntegra aqui (para assinantes).

(Foto: Arte s/ imagem de autor desconhecido)