O dedo do meio de Michelle
De Josias de Souza, no UOL:
Evangélica, a primeira-dama Michelle teve sua fé premiada em Nova York. Em meio à pandemia mais letal do século, se Deus tivesse que aparecer para a mulher de um presidente como Bolsonaro, Ele não se atreveria a surgir em outra forma que não fosse a de uma vacina de dose única contra a Covid.
Sob Bolsonaro, o absurdo adquiriu uma doce naturalidade. A reiteração da irracionalidade suprimiu o espanto dos hábitos nacionais. Se o presidente resolvesse andar de quatro, relinchando contra as vacinas, nada aconteceria. O inaceitável continuaria despachando no Planalto até o último dia do mandato.
De repente, a imunização de Michelle Bolsonaro ressuscitou o ponto de exclamação. Um frêmito de indignação percorre a conjuntura desde que o capitão revelou que sua mulher voltou dos Estados Unidos vacinada. Políticos chamam madame de impatriótica. Epidemiologistas a acusam de trair o SUS.
Bolsonaro derramou mentiras sobre o púlpito das Nações Unidas. E Augusto Aras reassumiu a chefia do Ministério Público com um discurso em que proclamou que a caneta do procurador-geral não será utilizada como instrumento para criminalizar a política. Nenhuma autoridade fez a concessão de uma surpresa.
Bolsonaro converteu o Brasil numa anedótica republiqueta de bananas ao prescrever na principal tribuna da diplomacia mundial o tratamento precoce com o seu kit cloroquina. E Arthur Lira, o réu que preside a Câmara, manteve trancado o gavetão em que se acumulam 132 pedidos de impeachment. O país boceja. Leia mais (para assinantes).
PS – O título da postagem é de Diogo Mainardi (aqui), comentando sobre o mesmo tema.
(Foto: Alan Santos/PR)