Vereadores determinam que contribuinte deve pagar por estátua de bronze em homenagem a ex-jogador do Grêmio

Câmara quer que contribuinte maringaense pague estátua de bronze a ex-jogador

A atual legislatura da Câmara Municipal de Maringá está expondo um senhor de 82 anos a uma situação constrangedora de conflito com a comunidade. Apesar da boa intenção, o Legislativo aprovou uma lei que determina (não é autorizativa) que a Prefeitura de Maringá instale um monumento em homenagem ao ex-jogador de futebol Roderley Geraldo de Oliveira, na entrada principal do Estádio Regional Willie Davis. Ou seja, se depender dos vereadores, o contribuinte maringaense será obrigado a dar dinheiro do imposto que paga aos cofres municipais para bancar uma estátua que deverá ser confeccionada “em bronze e conterá placa de identificação na qual se fará menção ao histórico do homenageado”.

Não se trata, em momento algum, de discutir mérito da homenagem; a principala questão é o custeio da homenagem pelo bolso do contribuinte. Não bastasse a divisão entre torcedores do extinto Grêmio Esportivo Maringá – time que tinha Edgard Belisário, o artilheiro que superou Pelé, e o goleiro Maurício Gonçalves, entre outros nomes que deram vários títulos estaduais ao clube nos áureos anos do futebol na cidade -, a homenagem indica novamente que o Legislativo carece mesmo de um assessoramento jurídico e de uma Comissão de Constituição e Justiça menos política.

Ao propor a estátua a um ex-grande jogador vivo, que tem toda uma história de elegância e competência no esporte que praticou na juventude, os vereadores Mário Hossokawa (PP), Mário Verri (PT) e Manoel Sobrinho (PL) deixaram para segundo plano, além da legalidade, a forma da homenagem. Roderley recebeu em 2011 o título de cidadão benemérito de Maringá, por iniciativa de Sobrinho.

O que o Legislativo poderia ter feito é autorizado o uso do espaço público do Willie Davids para um monumento, preferencialmente custeado por lei de incentivo, contemplando Roderley e também outros que ajudaram o Grêmio (lembrando que entre os que permanecem vivos está Edgard, que reside em Ponta Grossa).

Monumento deve ser confeccionado em bronze, estabelece projeto aprovado

A ideia da estátua para Roderley – que completou 82 anos ontem – surgiu quando em maio o ex-jogador Carlos Alberto Garcia, grande ídolo do Londrina Esporte Clube e que também jogou em Maringá, ganhou a sua. Ela não é fixa e pode ser levada, como tem sido, para eventos relacionados ao Tubarão e ao esporte londrinense. E aí está a grande diferença: a estátua de Carlos Alberto Garcia foi custeada por patrocinadores e pelo próprio LEC (dizem que o próprio CAG acabou ajudando). Ao contrário do que aconteceu em Londrina, a homenagem imposta pela Câmara de Maringá quer que o contribuinte pague todas as despesas, inclusive incluindo na lei aprovada que o prefeito deve promover “as alterações que se fizerem necessárias na legislação orçamentária do município, em cumprimento ao que determina a lei complementar 101/2000”. Ou seja, usando a Lei de Responsabilidade Fiscal a prefeitura terá que tirar o valor gastos com a homenagem a um ex-atleta de outra área, cancelando verbas programadas para atendimento de outras prioridades.

Antes de Carlos Alberto Garcia, o ex-jogador Dirceu Kruger, do Coritiba Footbal Clube, ganhou uma estátua no Estádio Couto Pereira, em Curitiba. O dinheiro para a homenagem foi obtido através de uma vaquinha virtual: os R$ 141 mil vieram de 857 pessoas.

Tudo isso deixa o homenageado numa situação muito chata, uma verdadeira saia justa. Todos sabem que ele merece homenagem, mas ela não pode ser feita com dinheiro público. Para a prefeitura fica o dilema que os vereadores não quiseram ter: cumprir a lei ou fazer política com o dinheiro do imposto pago pelo maringaense? Não seria mais interessante aplicar eventual gasto colocando a iluminação LED ao lado do Estádio WD, como pedem há tempos os moradores? (hoje ela só existe onde funciona a Feira do Produtor).

PS – Em Juazeiro (BA), a prefeitura local bancou uma estátua para o ainda jogador Daniel Alves, ali nascido. O artista levou R$ 164.300,00 da administração de Marcus Paulo Alcântara Bonfim (PCdoB), que pagou o preço político da polêmica: no ano passado, também por conta da estátua, perdeu a reeleição para Suzana Ramos (PSDB). Em compensação, a internet ganhou muitos memes, porque a estátua de Dani Alves em nada lembra o jogador.

Élcio Bassi, Rubens Cabral, Marcelo Belinati e Sérgio Malucelli com Carlos Alberto Garcia, em maio

(Fotos: MEM/Henrique Campinha)