Maringá no editorial da Folha de S. Paulo

Milton Ribeiro, ministro da Educação: nenhum estudante a mais, e sim 2.912 cargos para preencher

A “Opinião da Folha” da edição de ontem citou Maringá. Sob o título “Centrão universitário”, abordou a inclusão da cidade, mesmo com a rejeição de consulta pública, entre os seis institutos federais que serão criados junto com cinco universidades para beneficiar integrantes do chamado centrão, que dá sustentação ao governo Bolsonaro.

“Pode parecer pouco, diante de 18 universidades e 173 campi inaugurados por governos petistas de 2003 a 2014. Na realidade, trata-se de exorbitância sem paralelo. As instituições criadas por Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff permitiram aumentar de 500 mil para 932 mil o número de estudantes matriculados em universidades federais entre 2002 e 2014. As 11 unidades pretendidas por Ribeiro, em contraste, não acrescentam nenhuma vaga ao sistema.

Na realidade, não se trata de universidades e institutos novos, mas de desmembramento de instituições que já existem. Não haverá ingresso de estudantes, mas sim 2.912 cargos para preencher, a um custo anual que pode ficar entre R$ 147 milhões, segundo o MEC, e R$ 500 milhões, nas contas do Ministério da Economia.

Pistas sobre as razões verdadeiras do plano tresloucado surgem quando se consideram os locais contemplados. Despontam estados como o Piauí, base eleitoral do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), e Goiás, que não constava do projeto original e acabou incluído para afagar o deputado Vitor Hugo (PSL).

Maringá (PR), a cidade da qual já foi prefeito o líder do centrão e do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP), nem mesmo dispõe de campus para ser desmembrado. O município ganharia, entretanto, um instituto federal. Decerto não faltarão interessados em auferir rendimentos com a oferta de terrenos para o estabelecimento.

​Não há previsão de recursos para executar tal plano na proposta de Orçamento para 2022. Ainda no malfadado 2021, faltam R$ 124 milhões para a Capes honrar o pagamento de bolsas de formação de professores já concedidas. Cerca de 60 mil beneficiários arriscam ficar a ver navios.

Este é o governo que palavreia sobre contenção de gastos de pessoal com a mesma desfaçatez com que Bolsonaro propaga mentiras sobre as vacinas que oferecem proteção contra a Covid-19.

Este é o governo que mantém à frente da pasta da Educação Milton Ribeiro, agachado diante dos próceres do centrão: sem vagas para estudantes e professores, mas com dinheiro para comprar a omissão do Congresso diante das atrocidades bolsonaristas”, diz o editorial.

(Foto: Walterson Rosa/MS)