Hoje vi um homem no semáforo, segurava um papelão rabiscado com quatro letras: F O M E.

Duas consoantes e duas vogais que me fizeram sentir como se tivesse tomado um soco no estômago. Porque eu, não tinha fome.

Onde poucos têm tanto e tantos não tem nada lá estava ele, com suas dolorosas quatro letras, pedindo uns trocados entre um carro e outro. “É perigoso abrir o vidro”. Pronto. Encontrada a justificativa para não dar alguns trocados àquele miserável e manter a consciência tranquila. A miséria causa medo e repulsa.

Mas a origem daquelas quatro letras, dolorosas como um soco no estômago, vem de uma palavra maior: desigualdade. Desigualdade que é, cada vez mais, socialmente maior.  

O sinal fica verde, os carros avançam, fumaça. O homem permanece lá, sua placa de papelão e sua fome também.

(Publicado originalmente aqui)

(Foto: Roberto Parizotti)