Tempestade e bonança se revezam no pote

Um dos piores anos de nossas vidas. A pandemia de covid-19 matou mais de 600 mil pessoas e destruiu famílias. Perdi amigos, conhecidos e experimentei as agruras do vírus. Eu e pessoas da minha família tivemos covid-19. Dias turbulentos. Aterrorizantes.

O vírus amenizou, mas a pandemia persiste. A crise é ferrenha. Falta dinheiro. Escassez de trabalho. Desemprego atroz. A miséria se espalha. Andar nas ruas de uma cidade de porte médio ou grande virou um exercício de encarar o desalento. Gente maltrapilha a pedir esmola. A fome se espalha. O Brasil, outrora chamado de celeiro do mundo, se transformou num foco de mazelas.

O alento é que nenhuma crise dura para sempre. A bonança e a tempestade se revezam no pote. O segredo talvez seja saber se portar conforme a bolinha sorteada. Por exemplo, meu ano foi pesado, difícil, mas também de reinvenção. A pandemia, o vírus e a crise me fizeram desacelerar. Aluguei meu apartamento e mudei de cidade.

Com o trabalho reduzido, limitado ao online, ampliei minhas leituras. Me matriculei numa especialização de ensino a distância e me dediquei a escrever. Refleti sobre minha vida. Escrevi 40 crônicas que retratam o tempo em que morei na roça. Infância e adolescência. Coisa que não faria se não estivesse me aquietado. Pretendo lançar um livro com os textos.

Não eximo os governantes, que devem fazer a parte que lhes cabem. Reprovemos, nas urnas, os ignorantes, os truculentos e os que negam a ciência. Eles jogam o Brasil no abismo. Tentam ceifar nosso direito à felicidade. Ano bom e ano ruim dependem da nossa capacidade de discernir o que é bom e ruim. Apertar com sabedoria o botão da urna eletrônica é parte preponderante de nossa redenção.

Saibamos suportar as dificuldades e tenhamos sabedoria para superá-las. A estratégia para 2022. Assim seja.


(*) Donizete Oliveira, jornalista e historiador.

(Foto: Sahir Sujahudeen)