Do jogo das pedrinhas ao futebol no campinho do pasto

Antes da fila para entrar na escola, a gente se divertia no pátio. Sentados. Um do lado do outro. Para o jogo das pedrinhas. O nome oficial é bugalha. Mas a gente chamava de jogo das pedrinhas. Em casa, na escola e na roça não faltava ocasião para jogar.

Dizem que é uma brincadeira antiga. Os nobres no Império Romano, a jogavam com pepitas de ouro. Para a gente, mais uma diversão na roça. A habilidade estava em jogar as pedrinhas. Amparar o maior número possível nas costas da mão e, ao mesmo tempo, rolar uma entre os dedos.

A mãe gritava para ir tomar banho. Na boca da noite. A gente fazia que não ouvia. Entretido com as pedrinhas. Outro jogo que prendia a atenção da molecada era o rouba-monte. A gente tinha um baralho velho, surrado. De tanto jogar. As cartas, cada semana, ficavam numa casa. Para jogar rouba-monte.

Outro entretenimento eram as bolinhas de gude. Eu tinha um vidro cheio delas. O mote era acertar a bolinha dentro de um buraquinho. Quem conseguisse, ganhava uma. Eu mais perdia. Não tinha firmeza nos dedos. Alguns iam embora com o bolso cheio de bolinhas. Muitas vezes, eu tinha de permutar e até comprar. Se fosse depender só do jogo ficava sem elas.

Brincadeiras que envolviam corrida e força física também. A salva, por exemplo. Uma turma pegava; outra corria. Aqueles pegos formavam uma fila de mãos dadas. Podiam ser salvos. Se todos fossem pegos, acabava o jogo. Tinha os fortões. Me lembro do Carlito e do Zé Dinato. Indomáveis na salva. Nos tempos da Escolinha Antônio de Lúcio. Zona rural de Apucarana.
Duas professoras da cidade lecionavam lá. O difícil era fazer a turma formar fila. Meninos e meninas entretidos na salva. A camisa branca que formava o uniforme com a calça azul marinho ficava cheia de dedos. Quando não rasgada. Vez ou outra alguém tomava uma dedada no nariz. O sangue escorria. Não sei por que, mas nosso nariz era alvo fácil.

Não faltava o futebol. Com bola de meia. A gente chegava mais cedo à aula para jogar no pátio da escola. Eu jogava descalço. Não raro, ficava sem uma unha.

Rela. Uma brincadeira mais simples. Todos corriam. Aquele que estava com a rela tinha de relar em alguém. De repente, aquela penca de meninas e meninos correndo pelo meio do cafezal que circundava a escola. O intento era passar a rela. Ou acertar a bets. Mais uma brincadeira. Uma dupla lançava a bolinha; outra a rebatia. O pedaço de madeira tinha de ficar com a ponta numa área perto do alvo. Assim, o lançador não podia derrubá-lo.

Não faltava o futebol. Com bola de meia. A gente chegava mais cedo à aula para jogar no pátio da escola. Eu jogava descalço. Não raro, ficava sem uma unha. Ou com a camisa rasgada. Aos domingos, no campinho improvisado no pasto, perto de casa. A gente disputava melhor de três jogos. Quem vencesse ganhava meia dúzia de tubaína.

Alguns homens se juntavam aos meninos. Com o tempo, conseguimos uma bola de couro. De quinas e costura. O tal capotão. Pesada. Molhada virava chumbo. Eu tinha cisma de cabeceá-la. Num chute mais forte nem rebatia de cabeça. Uma vez um rapaz que morava numa colônia foi jogar lá. Ele chutou forte e um fulano rebateu de cabeça. Uma quina da bola que fora costurada no sapateiro lhe cortou levemente a testa.

Tudo muito rústico, mas a felicidade nos movia. Nas singelas diversões da roça.


(*) Donizete Oliveira, jornalista e historiador.

(Foto ilustrativa: Reprodução/Nay Dias)