O fim melancólico do plano que ajudou a eleger Bolsonaro
De Victor Irajá, na reportagem de capa da revista Veja desta semana:
O ministro Paulo Guedes tem demonstrado nas últimas semanas inusitados sinais de otimismo. Em seu círculo mais próximo, tem comemorado uma conversa recente com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), em que o político revelou seu empenho em dar andamento à Proposta de Emenda Constitucional 110, que propõe a substituição de nove tributos por um imposto. Ao mesmo tempo, tramita na Casa, que reiniciou os trabalhos nesta semana, o projeto de lei do imposto de renda que cria a taxação sobre os dividendos de pessoas jurídicas. Com as duas medidas aprovadas, o ministro poderia se jactar de pelo menos um pedaço da ambiciosa reforma tributária proposta ainda na campanha eleitoral de 2018 ter saído do papel. Apesar do entusiasmo de Guedes, o prognóstico não é tão róseo quanto ele sugere. As chances de um assunto tão complexo ser aprovado às vésperas de uma campanha eleitoral são remotas e, mesmo que isso aconteça, o resultado ficará muito aquém do arrojado projeto capaz de debelar o cipoal tributário brasileiro imaginado pelo ministro. A expectativa era que ele instituísse um modelo fiscal mais justo, moderno e capaz de trazer competitividade à economia. Na prática, continuamos a pagar muitos impostos.
Formado na meca do moderno liberalismo econômico, a prestigiada Universidade de Chicago, Paulo Guedes chegou a Brasília em janeiro de 2019 disposto a mudar o Brasil. Para isso, passou a ter sob seu comando uma superestrutura formada pela fusão de quatro ministérios, uma maneira de manter controle absoluto das decisões econômicas. A ideia era resgatar o espírito animal preconizado pelos liberais e colocar um ponto-final aos voos de galinha da economia brasileira, com seu desempenho errático, taxas de crescimento decepcionantes e estruturas anacrônicas. Prometia implantar nos quatro anos de governo de Jair Bolsonaro medidas capazes de injetar 3,6 trilhões de reais na economia em uma década. A perspectiva, segundo seus planos, era dobrar o PIB per capita do país até 2030. Leia mais.