O preço do negacionismo
Oswaldo Cruz. Assumiu recebendo carta branca do presidente Rodrigues Alves e soube usá-la.
De Elio Gaspari, em O Globo:
Pelos números do Ministério da Saúde, o Brasil voltou na quinta-feira à marca dos mil mortos diários pela covid, número que parecia abandonado desde agosto. Há um mês, contavam-se os mortos numa só centena. Esse pico se deveu à associação de um vírus com outro fator, produzido pelo negacionismo. O presidente da República duvida da vacina e seu ministro da Saúde flerta com a fama. Isso num país que já perdeu mais de 630 mil vidas, número provavelmente superior ao de todas as suas guerras, internas e externas.
Salvo o Peru, com seis mil mortos por milhão de habitantes, o Brasil, com cerca de 2.800, está na companhia de oito países do falecido mundo socialista do Leste Europeu.
Há dias, num momento de delírio abstêmio, o doutor Marcelo Queiroga disse o seguinte: “Quero que a História me defina como o homem que acabou com a pandemia”. Com quase cinco séculos de atraso, incorporou as virtudes do papa Gregório XIII, patrono do calendário gregoriano. A pandemia do coronavírus acabará, como acabou a da peste negra dos séculos XIV e XV. Naquele tempo as epidemias eram enfrentadas com rezas e superstições. Não havia vacinas, e as pragas acabavam pelo movimento do calendário.
Havendo vacinas, Queiroga atrapalhou a imunização das crianças e de seu ministério partiram incentivos a drogas milagrosas. Quem acabou com epidemia no Brasil foi Oswaldo Cruz. Assumiu recebendo carta branca do presidente Rodrigues Alves e soube usá-la.
(Foto: Correio da Manhã/Arquivo Nacional)
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