A guerra vai além de Putin

Qualquer guerra é reprovável. Mas apenas excomungar o mandatário russo, não me parece inteligente. Quem tem mais do que cabelo na cabeça sabe que Putin não é flor que se cheire. Tem um documentário muito bom sobre ele. “As testemunhas”. Assista.

Mas a questão da Ucrânia vai além dele. Qualquer presidente russo tomaria a mesma decisão. Levando em conta o poderio bélico da Rússia e a posição da Otan. A guerra não veio do nada. A Otan, criada em 1949, que tem forte influência dos Estados Unidos, vem aumentando seu raio de atuação. A Ucrânia é ponto estratégico e está no nariz da Rússia.

A presença da Otan ali significa o dedo dos Estados Unidos a apontar para a Rússia. Tem razão Putin, quando disse: “Como reagiriam os americanos, se instalássemos nossos misseis na fronteira entre Estados Unidos e Canadá”. A Otan na Ucrânia tem o mesmo significado. De certa forma, ela já está lá. Em 2014, o então presidente ucraniano, Viktor Yanukovichi, era pró-russo e foi derrubado. Com apoio de forças externas.

Houve até uma tentativa de paz. O Protocolo de Minsk. Assinado em 2014. Para pôr fim à guerra no leste da Ucrânia. O atual presidente do país, um comediante eleito no calor das mudanças, joga com Washington. Cabe prudência aos líderes ocidentais. Só bater em Putin, não explica nem ameniza o conflito. De fato, ele não é flor que se cheire, como disse, mas o conflito não se restringe a ele. A Otan, que congrega 30 países, precisa repensar sua atuação.


(*) Donizete Oliveira, jornalista e historiador

(Foto: Governo da Ucrânia)