Hospital da Criança de Maringá foi construído para atender covid, diz revista
O Hospital da Criança de Maringá foi construído por causa da pandemia de covid-19. É o que sustentam informações do site da Construction Review Online, revista de construção mensal africana. O hospital, porém, nunca atendeu nenhum caso de covid ou qualquer outra doença. Concebido no final de 2017 pelo então ministro da Saúde Ricardo Barros (PP), o hospital teve o contrato para construção assinado com a Prefeitura de Maringá em fevereiro de 2018 – e o primeiro caso de covid-19 no mundo ocorreu em 17 de novembro de 2019, em uma pessoa de 55 anos moradora da província de Hubei, próximo de Wuhan, na China, onde aconteceu o foco do primeiro surto da doença. A pandemia foi oficialmente caracterizada em 11 de março de 2020, pela Organização Mundial da Saúde. A homologação do contrato (inicialmente no valor de R$ 124 milhões 200 mil) com a União Nacional das Associações de Proteção à Maternidade, Infância e Família e Entidades Sociais Afins) ocorreu 726 dias antes do registro do primeiro caso de novo coronavírus no Brasil (26 de fevereiro de 2020), em São Paulo.
O Hospital da Criança foi apresentado como uma iniciativa da deputada Maria Victoria Borghetti Barros (PP), candidata à reeleição, filha do ministro e de Maria Aparecida Borghetti Barros (PP), que governou o Paraná por oito meses. Trata-se de uma parceria dos governos federal e estadual com a Organização Mundial da Família, ONG que tem sede em Curitiba e antecedentes de atraso na entrega de hospitais; desta vez, a ONG prometeu um sistema inédito usando blocos que possibilitaria a rápida construção do prédio, em até 9 meses. Parte do dinheiro – US$ 10 milhões -, estabelece o contrato, seria investimento da própria entidade.
O hospital, investimento total anunciado de R$ 156,7 milhões, com cerca de 23 mil metros quadrados de área construída em terreno da União de 88,6 mil metros, deveria estar pronto em novembro de 2018, mas até hoje não foi entregue. Foi Barros, hoje líder do governo Jair Bolsonaro, quem conseguiu que a União liberasse a área para o hospital; anteriormente estava previsto que o local abrigaria somente o novo Centro Cívico. O início da obra deu-se em 26 de outubro daquele ano eleitoral, quase oito meses depois da assinatura do contrato. Antes disso, porém, foram realizadas ao menos duas solenidades de assinatura do contrato envolvendo recursos públicos do Sistema Único de Saúde.
Um mês depois de deixar o Palácio Iguaçu, a ex-vice-governadora tornou-se “embaixadora” da ONG para a qual foram destinados cerca de R$ 120 milhões públicos e sua presidente Deisi Kusztra tornou-se membro do Conselho Estadual de Desenvolvimento Econômico e Social do Paraná (Cedes), indicada pelo governador Ratinho Junior (PSD), e em junho recebeu voto de congratulações na Assembleia Legislativa do Paraná, proposto pela deputada Maria Victoria; a homenagem foi entregue em Genebra, na Suíça. Em fevereiro, governador Ratinho Junior (PSD) disse que o hospital estaria funcionando em abril passado; o atual secretário de Saúde de Maringá prometeu que funcionará até dezembro. Desde janeiro o município paga a segurança no prédio, que vai consumir meio milhão de reais do erário, sem que tenha ocorrido licitação da empresa na segunda contratação.
A matéria da revista Construction Review começa informando Maringá “enfrentou um desafio único quando a pandemia covid-19 colocou seus hospitais já superlotados à beira do colapso. Após colaborações urgentes entre o Estado do Paraná, o governo federal brasileiro e a Organização Mundial da Família [ONG sediada em Curitiba] o braintrust determinou que um novo hospital infantil fosse necessário em Maringá dentro de um ano”. Por causa disso (no caso, em 2020, quando a pandemia foi declarada) a ONG de Curitiba teria pesquisado e encontrado a Allied Steel Buildings. A Allied explica em seu site que Maringá “estava precisando desesperadamente de um novo hospital — com os existentes constantemente acima da capacidade” e que projetou, fabricou e entregou o Hospital da Criança “em tempo recorde”, acrescentando que a conclusão do projeto “foi oportuna, pois a pandemia covid-19 aumentou a pressão sobre os hospitais já superlotados de Maringá”.
“Devido à urgência da situação, o braintrust exigia muito mais do que um edifício de aço. Além da engenharia e fabricação do aço estrutural, a Allied foi encarregada de importar painéis metálicos isolados da Espanha e fornecer todas as portas, janelas, drywall, garanhões, pias e banheiros para a instalação”, diz o texto, que acrescenta que quase 200 contêineres foram enviados num único navio. “Ao chegar em Maringá, os componentes pré-fabricados foram erguidos em um hospital de 310 mil metros quadrados composto por 13 estruturas conectadas por um corredor central. Entre as instalações incluídas na unidade de extensão estão uma unidade de terapia intensiva pediátrica, um centro cirúrgico com quatro salas de cirurgia, um centro de ensino e pesquisa para doenças raras, laboratórios, centros de imagem, um centro de diálise, farmácia e muito mais. No total, o hospital disponibiliza 160 leitos de pacientes para crianças da região”, diz a reportagem, acrescentando que a empresa foi capaz de coordenar “tudo isso, do início ao fim, em menos de seis meses”.