“Acabou o café, acabou o dinheiro”

Prudenciano se lembra do auge do café no norte do Paraná, que atraia gente de outros, caso dele, que veio da Bahia

A saga de um baiano, seu Prudenciano, que deixou a terra natal e veio para o norte do Paraná atrás do cobiçado ouro verde, como eram chamados os cafezais de outrora

O município baiano de Riacho de Santana, a 715 quilômetros de Salvador, guarda um passado de desigualdades sociais e escassez de trabalho. A vida difícil obrigou muitos a buscar oportunidades longe dali. Uma rota preferida era o norte e o noroeste do Paraná. Nas décadas de 50 e 60, um oásis de fartura. Impulsionado pelo café, o cobiçado ouro verde.

Um dos que migraram em busca da terra prometida é um baiano que fala pouco, mas no rosto traz as marcas do tempo. Sentado num banquinho de madeira na mercearia Santo Antônio, antiga venda de secos e molhados, no distrito de Rio Bom, Santo Antônio do Palmital (a 85 quilômetros de Maringá), ele se recorda do auge do café na região.

O ano era 1962. Gentes chegavam e se instalavam atraídas pelos pés carregados de grãos. “Moço do céu era um formigueiro”, diz Silvano Prudenciano do Carmo, 78, meio desconfiado por que estou lhe fazendo perguntas. “Pra que você quer saber essas coisas”, indaga.

Uma entrevista. Para o senhor falar do passado da região. Explico. Silêncio. A gente proseia, sugiro. Prudenciano faz cara de que não entende, mas aceita. Diz que viera do interior da Bahia com mais um colega apanhar café. “A gente se deu bem porque tinha muito serviço”, conta. Diversões também. Jogos de futebol, festas, bailes e até cinema. “Um pessoal da cidade vinha passar filme aqui, num salão, que ficava apinhado de gente”.

A mercearia Santo Antônio preserva traços antigos, da época áurea do café na região

A dez quilômetros de Rio Bom e a 40 quilômetros de Apucarana, Santo Antônio do Palmital tem em torno de 300 moradores. A maioria trabalha na roça. Com a queda do café, as pessoas foram se mudando. Alguns dos que permaneceram conseguiram comprar um pedaço de terra. É o caso de Prudenciano. “Guardei um dinheirinho do tempo de vacas gordas e comprei uma chácara, onde moro com minha família”, declara, se referindo aos bons tempos do café. Casado com Maria do Carmo, ele tem dois filhos e dois netos.

Na porta da antiga venda de secos e molhados, Agnaldo Alves, 36, que nasceu no distrito, concorda com o pioneiro. “No tempo da bonança do café aqui corria dinheiro”, afirma. Laércio Maia, 54, que trabalha na roça e ganha R$ 80 por dia, diz ouvir os mais velhos enaltecerem o passado. “Era uma época movimentada em que ninguém ficava sem trabalho”. De cabeça baixa, Prudenciano emenda com um sorriso contido: “acabou o café, acabou o dinheiro, acabou o que era doce”.

Texto e fotos: Donizete Oliveira