Sobre o voto útil

“Uma necessidade premente e imperiosa”

O voto útil na atual conjuntura política e social, é o voto de Minerva em benefício da Democracia, isto é, pelo Bem Comum, o bem de todos e todas, até mesmo dos que apóiam e votarão em Bolsonaro. E por que da importância do voto útil em Lula?

E aqui, antes de mais nada, é preciso salientar de que não se trata da eleição em si do candidato Lula, posto que o voto também seria útil se o candidato fosse outro (Ciro, Tebet, Soraya, D’Ávila ou o Zéprequeté), contanto que fosse respeitador do Estado Democrático de Direito e estivesse na dianteira ou no páreo da disputa eleitoral no confronto direto com Bolsonaro, cujas intenções e maquinações, como sabemos, aspiram, custe o que custar, a manutenção do poder, nem que seja passando por cima de tudo e de todos, como aliás vem acontecendo.

Então, quando diante de um postulante fascista, que pleiteia usurpar o poder pelo golpe e demagogia à revelia da vontade democrática, não se pode haver diálogo nem civilidade. Por conseguinte, o voto útil se tornou uma necessidade premente e imperiosa e um voto de Minerva haja vista as pesquisas apontarem dentro da margem de erro ora uma vitória de Lula já no 1º turno ora postergando a definição das eleições a um 2º turno tenebroso com um candidato que premedita sabotar e não aceitar o resultado das urnas.

Desse modo, aquele eleitor ou aquela eleitora que pretende votar em Ciro, Tebet ou outro candidato cujas pesquisas indicam possibilidade ínfima de vitória, e também aqueles e aquelas que inadvertidamente pretendem votar em branco ou anular o voto, assim como aos indecisos que ainda não optaram por algum candidato, enfim, precisam compreender que circunstancialmente o que está em jogo é a soberania popular, o direito do sufrágio universal de poder participar das escolhas e decisões políticas de seu país.

Alienar a decisão democrática aos caprichos autoritários de um impostor é o mesmo que aviltar e rebaixar sua condição e dignidade humanas de cidadão. Não mais sendo cidadão, pouco importa ou de nada vale sua opinião política e suas necessidades sociais e econômicas. Portanto, mesmo que não seja do agrado o voto em Lula, ainda assim é muito mais seguro e sensato tal resolução, e a definição da eleição no 1⁰ turno através do voto útil seria a bala de prata naquele que quer vampirizar nossa democracia, enfraquecendo desse modo sua sanha e pretensão golpistas.

Além do mais, o voto útil seria um sinal de demonstração de maturidade e virtude democráticas, uma sabedoria política de quem sabe que tem muito a perder quando alijado do direito democrático de participar politicamente do processo de construção da cidadania de seu país. Ter essa consciência e sabedoria políticas, não obstante, faz com que caminhamos para frente mesmo que para alguns se tenha a impressão de se estar andando para trás, mas isso iniludível seria um paradoxo, posto que lógica e fisicamente, dois passos para frente e um passo retrógrado, compassadamente, ainda assim teríamos a partir do marco inicial avanço de terreno, ao passo que, inversamente, um passo a frente e dois para trás, daí sim configuraria um retrocesso de terreno.

Enfim, trocando em miúdos, seguindo essa analogia, mais uma vez reitero: o voto em Ciro, Tebet, Soraya, D’Ávila e outros; o voto nulo ou branco ou a abstenção; o voto indeciso; etc., seria nesse momento um passo para frente e dois para trás, e se há um abismo (fascismo) na retaguarda a poucos passos, o perigo de queda é iminente. Desse modo, para continuarmos o caminho da democracia, depositemos o voto útil nas urnas eletrônicas, mesmo que para alguns signifique dois passos a frente e um para trás. Ainda assim é democracia!


(*) Dancler da Silva Freitas é professor de Sociologia em Maringá

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