Meu choro no portão, em 1982…

Paolo Rossi (1956-2020)

Antigamente, havia um boato de que em Londrina vendiam-se roupas mais baratas. Era o que se dizia nas cidades menores do norte do Paraná. Nos anos 1980, eu morava em Apucarana. Pelo menos duas vezes ao ano ia a Londrina comprar roupas. Justo no dia do jogo entre Brasil e Itália, na Copa do Mundo de 1982, lá fui eu comprar calças e camisas.

Naquele fim de semana eu tinha uma formatura no Senac, na sua antiga sede na Praça Rui Barbosa. Aproveitei o quase feriado e fui às compras. Eu ia receber meu certificado de vendedor balconista. Se não me engano, curso ministrado pelo Alair Luiz de Oliveira. Um expert na área de vendas que está na ativa até hoje.

O jogo, que quase todos pensavam ser barbada para a seleção Brasileira, começaria às 12h15, mas algumas lojas atenderiam até às 11 horas. Saí de casa num ônibus direto. Antes das 8 horas cheguei a Londrina. Após as compras, fui assistir ao jogo num quiosque no Calçadão. Naquele tempo havia vários lá. Muita gente ainda não tinha um aparelho de TV mais sofisticado em casa. O quiosque ficou abarrotado.

Uma boa exibição brasileira era dada como certa. Ainda mais após bater a Argentina no jogo anterior. O Brasil só precisava de um empate para avançar de fase. Muita bandeira, batuque e chope que rolava. Mas a partida começou estranha. Brasil errando passes. Bateu uma sensação de que as coisas poderiam dar errado. E deram.

O jogo acabou. Desci por uma das ruas que ligam o calçadão à Rodoviária de Londrina. Vi uma mulher com uma bandeira do Brasil, sentada no meio-fio. Ela chorava muito. Algumas pessoas a cercaram tentando consolá-la. Em vão. Não dizia nada. O silêncio imperava e só era quebrado pelo motor dos carros. Que pareciam trafegar numa marcha só, sem pressa.

Embarquei. No ônibus, o silêncio permaneceu até Apucarana. Desembarquei na antiga Rodoviária, onde hoje é o Terminal Urbano. Andei algumas quadras até chegar à minha casa. Bati a mão no portão e me dei conta de que tinha chegado. Sensação de que acordara. De um pesadelo. As imagens do jogo ressurgiram na minha mente. Lembrei-me dele, o Rossi. Havia destroçado nossa expectativa de ver aquela fantástica seleção conquistar o título. Senti um pingo na camiseta. Lágrima. Percebi que estava chorando.

Paolo Rossi, que chamamos de Paulo Rossi, se foi faz pouco tempo. Senti. Boa pinta. Simpático. Arrogância zero. Os anos se passaram. Aquele jogo virou memória. Não sei se um dia veremos outra seleção igual à de 1982. Que me fez chorar. Um choro bom, oriundo de uma paixão que não consigo mais sentir pela seleção Brasileira.


(*) Donizete Oliveira, jornalista e historiador